Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 2°
Ano
Disciplina: Filosofia - 2017
ÉTICA DO EQUILÍBRIO E
ÉTICA DO DEVER
· Aristóteles e a ética
do equilíbrio
Aristóteles também desenvolveu uma reflexão ética
racionalista, mas sem o dualismo corpo-alma platônico. Procurou construir uma
ética mais realista, mais próxima do indivíduo concreto. Para tanto,
perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para o que tendemos? E
respondeu: para a felicidade. Todos nós buscamos a felicidade.
E o que entende Aristóteles por felicidade? Para o
filósofo, a felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das
sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. A
felicidade última e maior se encontraria na vida teórica, que promove o que há
de mais essencialmente humano: a razão.
O indivíduo que se desenvolve no plano teórico,
contemplativo, pode compreender a essência da felicidade e, de forma
consciente, guiar sua conduta. Mas isso, no contexto histórico da Grécia
antiga, seria privilégio de uma minoria. Segundo o filósofo, a pessoa comum,
aquela que não pode se dedicar à atividade teórica, aprenderia a agir
corretamente pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e reiterada de
ações.
Assim, agir corretamente seria praticar as virtudes. E o
que seria a virtude? Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explica:
“A excelência moral (virtude moral), então, é uma
disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição
esta consistente num meio-termo determinado pela razão. Trata-se de um estado
intermediário, porque nas várias formas de deficiência moral há falta ou
excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a
excelência moral encontra e prefere o meio-termo. (p. 42)
A coragem, por exemplo, seria uma virtude situada entre a
covardia (a deficiência) e a temeridade (o excesso). Assim, o filósofo propôs
uma ética do meio-termo, na qual a virtude consistiria em procurar o ponto de
equilíbrio entre o excesso e a deficiência.
Mas observe que esse ponto de equilíbrio não é fixo, isto
é, não pode ser estabelecido de antemão, pois varia de acordo com a
circunstância ou ocasião (onde, quando, quanto, com quem, com o quê, como etc.)
Por exemplo: não é exatamente coragem reagir em um assalto a mão armada. Ou
seja, não é esse tipo de atitude que garante excelência moral de uma pessoa.
Como explicou Aristóteles:
[...] tanto o medo como a confiança, o apetite, a ira, a
compaixão e em geral o prazer e a dor, podem ser sentidos em excesso ou em grau
insuficiente; e, num caso como no outro, isto é um mal. Mas senti-los na
ocasião apropriada, com referência aos objetos apropriados, para com as pessoas
apropriadas, pelo motivo e da maneira conveniente, nisso consistem o meio-termo
e a excelência característicos da virtude. (Ética a Nicômaco, p. 273.)
Também é importante notar que, tanto em Platão como em
Aristóteles, a ética estava vinculada à vida pública. Aristóteles refere-se
mesmo à política como um meio da ética, pois sendo o ser humano, por natureza,
um ser sociopolítico, necessitaria da vida em comum para alcançar a felicidade
como plenitude de seu bem-estar.
· Kant e a ética do dever
Em seus textos Crítica da razão prática e Fundamentação da
metafísica dos costumes, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) aponta a
razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar normas universais,
uma vez que constitui um predicado universal dos seres humanos, isto é, uma
capacidade comum a todos. As normas morais teriam, portanto, sua origem na
razão.
· Dever e liberdade
Embora, em Kant, as normas morais devam ser obedecidas como
deveres, a noção kantiana de dever confunde-se com a própria noção de
liberdade. Isso ocorre porque, em seu pensamento, o indivíduo que obedece a uma
norma moral atende à liberdade da razão, ou seja, àquilo que a razão, no uso de
sua liberdade, determinou como correto. Dessa forma, a sujeição à norma moral é
o reconhecimento de sua legalidade, conferida pelos próprios indivíduos
racionais.
Kant reforça essa ideia ao dizer que um ato só pode ser
considerado moral quando praticado de forma autônoma, consciente e por dever.
Com isso, acentua o reconhecimento do dever como uma expressão da racionalidade
humana. A clareza dessa ideia é assim expressa pelo filósofo:
Age apenas segundo
uma máxima (um princípio) tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne
lei universal. (Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 59.)
Essa exigência é denominada por Kant de imperativo
categórico, ou seja, é uma determinação imperativa que deve ser observada
sempre, em toda e qualquer decisão ou ato moral que venhamos a praticar. Em
outras palavras, o filósofo quer dizer que nossa ação deve ser tal que possa
ser universalizada, ou seja, realizada por todos os outros indivíduos sem
prejuízo da humanidade. Se não puder ser universalizada, não será moralmente
correta e só acontecerá como exceção, nunca como regra. Vejamos como Kant se
expressa a esse respeito:
Se prestarmos atenção ao que se passa em nós mesmos sempre
que transgredimos qualquer dever, descobriremos que na realidade não queremos
que a nossa máxima se torne lei universal, porque isso nos é impossível; o
contrário dela é que deve universalmente continuar a ser lei; nós tomamos
apenas a liberdade de abrir nela uma exceção para nós. (Fundamentação da
metafísica dos costumes, p. 63.)
· Atos contrários à razão
E por que realizamos atos contrários ao dever e, portanto,
contrários à razão? Kant dirá que é porque nossa vontade é também afetada pelas
inclinações – que são os desejos, as paixões, os medos -, e não apenas pela
razão. Por isso ele afirma que devemos educar a vontade para alcançar a boa
vontade, que seria aquela guiada unicamente pela razão.
Em resumo, a ética kantiana é uma ética formal ou
formalista, pois postula o dever como norma universal, sem se preocupar com a
condição individual, em que cada um se encontra diante desse dever. Em outras
palavras, Kant nos dá a forma geral da ação moralmente correta (o imperativo
categórico), mas não diz nada acerca de seu conteúdo, não diz o que devemos
fazer em cada situação concreta.
Fonte Bibliográfica:
COTRIM,
Gilberto, Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.