quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

PATRÍSTICA - FILOSOFIA 2° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    2° Ano  
Disciplina:   Filosofia - 2019

PATRÍSTICA

·       Patrística

O termo patrística designa a produção doutrinária contida em um conjunto de textos sobre a fé e a revelação cristãs e elaborada principalmente pelos primeiros padres da Igreja.

Tinha por objetivo explicar os preceitos do cristianismo ás autoridade romanas e ao povo em geral, de maneira convincente, mediante um trabalho de pregação e conquista espiritual.

·       Origem

É anterior ao início da Idade Média, mas é o período em que se faz a síntese da doutrina cristã e a filosofia grega, tendo forte influência para a filosofia medieval.

Inicia-se com as Epístola de São Paulo e o Evangelho de São João. A Patrística vem dos apóstolos Paulo e João e também de Padres da Igreja, que foram os primeiros dirigentes espirituais e políticos da Igreja após a morte dos apóstolos. Com o desenvolvimento do cristianismo, tornou-se necessário explicar seus preceitos às autoridades romanas e ao povo. Não podia ser pela força, mais tinha que ser pela conquista espiritual.

·       Conciliação entre o cristianismo e o pensamento filosófico grego

Os primeiros pensadores padres elaboraram textos sobre a fé e a revelação cristã. Buscaram conciliar o cristianismo ao pensamento filosófico dos gregos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer e converter os pagãos da nova verdade. Tenta basear a fé em argumentos racionais.

A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho e Boécio.

·       Introdução de ideias desconhecidas dos gregos e romanos

A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade uma, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade, Introduziu, sobretudo, com Santo Agostinho e Boécio, a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.

Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus. Por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Dessa forma, o grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé.



AGOSTINHO

·       Santo Agostinho

Aureliano Agostinho (354-430) nasceu em Tagaste e faleceu em Hipona, ambas cidades da província romana da Numídia, na África, e que hoje pertencem à Argélia. Nessa última cidade viria a ocupar o cargo de bispo da Igreja Católica.

Professor de retórica em escolas romanas, Agostinho despertou para a filosofia com a leitura de Cícero (106-43 a.C.), orador e político romano que se caracterizou por seu ecletismo, tendência filosófica que buscava um acordo entre os ensinamentos de distintas escolas (platônica, aristotélica, hedonista etc.).

Posteriormente, deixou-se influenciar pelo maniqueísmo, doutrina persa que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, em uma incessante luta entre si.

Mais atarde, já insatisfeito com o maniqueísmo, Agostinho passou a lecionar em Roma e posteriormente em Milão. Nesse período entrou em contato com o ceticismo e, depois, com o neoplatonismo. Então cresceu e aprofundou-se nele uma grande crise existencial. Foi nesse período crítico que se sentiu atraído pelas pregações de Santo Ambrósio, bispo de Milão. Pouco tempo depois, converteu-se ao cristianismo e tornou-se seu grande defensor pelo resto da vida.

·       A relação entre corpo e espírito

Agostinho defendia a tese da supremacia do espírito sobre o corpo, isto é, que a alma teria sido criada por Deus para reinar sobre o corpo, para dirigi-lo à prática do bem. Mas o ser humano pecador, utilizando-se livre arbítrio, costumaria inverter essa relação, fazendo o corpo assumir o governo da alma.

·       O papel da vontade humana no pensamento

Diferentemente dos gregos, Agostinho entendia que a vontade é uma força que determina a vida, e não uma função específica ligada ao intelecto. Como a liberdade humana estaria vinculada à vontade, e não à razão, ela seria a fonte do pecado, pois o indivíduo peca porque, para satisfazer sua vontade, faz uso de seu livre-arbítrio, mesmo sabendo que tal atitude é pecaminosa ou vai contra a razão.

·       O rompimento do conceito de graça divina com a ética pagã

A ética pagã baseia-se na noção grega de autonomia da vida moral, isto é, na ideia de que o ser humano pode salvar-se por si só, sendo bom e fazendo boas obras, sem a necessidade da ajuda divina. Por sua vez, o conceito de graça divina traz implícita a ideia de que o esforço pessoal não basta, pois o ser humano nada pode conseguir sem a graça de Deus, e esta será concedida somente a alguns eleitos, predestinados à salvação.

 Doutrina da iluminação

Segundo sua teoria da iluminação, Deus nos dá o conhecimento das verdades eternas e ilumina a razão. A salvação individual depende da submissão total a Deus. Santo Agostinho ressalta a vinculação pessoal do homem com Deus, enquanto a filosofia grega identifica o homem com o cidadão e a política. Para ele, só é possível alcançar a verdade das coisas por meio da luz de Deus, no íntimo de nossa alma.

·       Doutrina da reminiscência

A filosofia agostiniana sobre o conhecimento apresenta uma semelhança importante com o pensamento de Platão. Para Santo Agostinho, Deus é a suprema verdade e, por ser onisciente (conhecedor de tudo), é a única origem possível do saber. A alma, também denominada de homem interior na filosofia agostiniana, está mais próxima da substância divina que qualquer outra parte do indivíduo, conforme ensina sua doutrina sobre a criação; por isso, é nela e por meio dela que todo conhecimento deve ser buscado.

Assim, nenhum conhecimento verdadeiro pode ser introduzido na mente de um indivíduo vindo de fora, por meio do ensino, da reflexão ou da observação do mundo. O saber sobre as formas dos seres e objetos, sobre a matéria em geral, os conceitos geométricos e matemáticos, as virtudes, as emoções encontram-se na alma, porque ela se origina da substância divina. Os conhecimentos de que temos consciência são os que já encontramos em nossa alma, como que ativados em nossa memória. Aquilo que ignoramos também está na alma, e simplesmente precisa ser desperto pela memória por meio da pesquisa em nosso mundo interior.


VÍDEO: 

Fonte Bibliográfica:

CHALITA, Gabriel, Vivendo a filosofia: ensino médio, volume único, 4. ed. São Paulo: Ática, 2011.

COTRIM, Gilberto, Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

PENA, Marcelo, Pré-Universitário: filosofia & Sociologia, anual, volume único – Fortaleza: FB Editora, 2014

TEMPO E HISTÓRIA - HISTÓRIA 1° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    1° Ano  
Disciplina:   História - 2019

“Tempo e História”

·       História e Historiadores

A história escrita não pode ser isolada de sua época. Ela reflete o historiador e o tempo em que ele vive. Por isso, a objetividade em história é sempre muito relativa: as interpretações dos historiadores não podem ser consideradas verdades absolutas, variando de acordo com as mudanças ocorridas no processo histórico.

O trabalho do historiador consiste em investigar e interpretar as ações humanas de modo a compreender o processo histórico.

·       Fontes históricas e sua importância

As fontes permitem que o historiador tenha acesso aos fatos do passado e, a partir deles, procure entender e interpretar como os humanos viveram e se organizaram, permitindo a compreensão das relações entre passado e presente.

As principais fontes históricas são as escritas e as não-escritas.

As fontes escritas são registros em forma de inscrições: cartas, livros, jornais, documentos públicos etc.; as fontes não escritas são registros das atividades humanas realizados em linguagens diferentes da escrita: pinturas, esculturas, vestimentas, armas, músicas, discos, fotografias, depoimentos (fontes orais) etc.

·       Sentidos da palavra história

A palavra história com o sentido de ficção, estão relacionadas as fontes produzidas pela imaginação humana: livros de aventura, filmes, novelas de televisão; com o sentido de processo vivido, as fontes são principalmente os relatos de experiências, produzidos pela memória das pessoas que as viveram; com o sentido de produção de conhecimento, podem ser relacionados todos os tipos de fontes, porque essa produção não exclui os outros dois sentidos.

·       Concepções do tempo

O modo como medimos o tempo pelo relógio não é universal, mas apenas uma possibilidade de medição desenvolvida em nossa cultura, sendo, portanto, uma construção histórica: O modo como o dia terrestre é dividido em horas, minutos e segundos é puramente convencional.

Em muitas sociedades rurais, os trabalhadores vivenciam um “tempo da natureza”, relacionado ao dia e à noite, às variações do clima, às épocas de plantio e de colheita etc.

Já nas sociedades industriais contemporâneas, os trabalhadores de uma fábrica, por exemplo, vivenciam um ritmo de tempo marcado pelas horas do relógio, mesmo porque as horas de trabalho, em geral, são vendidas por determinado preço, o salário.

·       Calendário

É um sistema que estabelece um modo de contar o tempo. O termo deriva do latim calendarium (“livro de contas” do qual contavam os juros dos empréstimos, pagos nas calendae, que correspondia o primeiro dia dos meses romanos).

É uma criação sociocultural ligada a diversos fatores, como: observações astronômicas, crenças religiosas, valores sociais etc.

·       Calendário cristão

Os povos cristãos têm como marco básico da contagem do tempo o nascimento de
Cristo. As datas anteriores ao seu nascimento recebem a abreviatura a.C. (antes de Cristo); as datas posteriores podem vir acompanhadas ou não da abreviatura d.C. (depois de cristo).

No calendário cristão (...), o ano fixado para o nascimento de Cristo foi considerado o ano 1 da era cristã e não o ano zero; possivelmente porque o conceito do zero ainda era pouco difundido na Europa Ocidental. (Bertília Leite e Othon Winter. Fim de milênio – uma história dos calendários, profecias e catástrofes cósmicas. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1999.p.18)

No século XVI, o papa Gregório XIII convocou uma comissão de astrônomos que promoveu ajustes no calendário cristão (Reforma Gregoriana) que deu origem ao calendário que ainda hoje utilizamos. Esta reforma foi colocada em prática a partir de 1582.

O calendário cristão agrupa o tempo em dias, semanas, meses e anos. Períodos maiores: dez anos (décadas), cem anos (séculos), mil anos (milênios).

Costuma-se indicar os séculos por algarismos romanos, uma tradição que vem da Roma antiga: século XV (do ano 1401 ao ano 1500); século XXI (do ano 2001 ao 2100).

Para saber a que século pertence determinado ano basta somar 1 ao número de centenas do ano. Por exemplo: no ano de 1997, o número de centenas é 19. Temos então:

1997 – 19 + 1 = século XX

Assim, 1997 pertence ao século XX.

No entanto, quando um ano termina em 00, como o ano 2000, por exemplo, temos uma exceção à regra. Nesse caso, o número de centenas indica o século. Veja:



2000 – século XX

  • Ano Bissexto

O ano bissexto é aquele que possui um dia a mais do que os outros anos que possuem 365 dias. No calendário gregoriano, este dia extra é contado a cada 4 anos, sendo incluído sempre no mês de fevereiro, que passa a ter 29 dias.

O ano bissexto acontece porque o ano-calendário tradicionalmente utilizado possui uma diferença em relação ao ano solar. Enquanto que no calendário tradicional o ano dura 365 dias para se completar; no calendário solar, dura 365,25 dias.  Sobram, portanto, aproximadamente 5h48m46 (0,2422 dia) a cada ano trópico. As horas excedentes são somadas e adicionadas ao calendário na forma inteira de um dia (4 x 6h = 1 dia).

Sendo assim, a cada quatro anos temos a diferença de um dia em relação ao calendário convencional e solar. Esse dia é justamente o que caracteriza o ano bissexto.

  • Origem do nome

O ano bissexto teve início no Egito em 238 a.C. Em 45 a.C. Entretanto, foi o imperador romano Júlio César quem trouxe a idéia do ano bissexto para o ocidente. 

O dia 3 de fevereiro, por exemplo, chamava-se “antediem III Nonas Februarii”, ou seja, “três dias antes da Nona de Fevereiro” e o dia 24 de fevereiro chamava-se “antediem VI Calendas Martii” ou “antediem sextum Calendas Martii”, ou seja “sexto dia antes da Calendas de Março”. 

O imperador romano Julio César ao fazer a introdução de mais um dia no ano, optou pelo o mês de fevereiro, e dentro deste mês escolheu por duplicar o dia 24, chamando-o de “antediem bis-sextum Calendas Martii” (De novo o sexto dia antes das Calendas de Março), surge então o nome “ bissexto”, que passou a designar o ano que tivesse este dia suplementar. 

Júlio César escolheu o mês de fevereiro para adicionar um dia porque, além de ser o mês mais curto do ano, com 28 dias, também era o último mês do ano entre os romanos, e que por eles era considerado como um mês negativo. Desta forma a escolha por duplicar o dia 24, ao invés de ser introduzido o novo dia 29 (como atualmente fazemos) se deu por motivos supersticiosos.

·       Periodização histórica tradicional

- Pré-história – do surgimento do ser humano até o aparecimento da escrita (c. 4000 a.C.);

- Idade Antiga ou Antigüidade – do aparecimento da escrita até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.);

- Idade Média – da queda do Império Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453);

- Idade Moderna – da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (tomada da Bastilha, 1789);

- Idade Contemporânea -  da Revolução Francesa até os dias atuais.

·       Críticas a periodização histórica tradicional

A denominação “Pré-história” gera alguns problemas. O termo “Pré-história”, que se refere ao período anterior à escrita, passa a impressão errônea de que antes da invenção da escrita não há história ou de que não é possível conhece-la. Na verdade, o ser humano, desde seu aparecimento no planeta, é um ser histórico, mesmo que não tenha utilizado a escrita em algum período, sendo possível conhece-lo por meio das fontes não escritas.

Esta divisão tradicional foi feita a partir do ponto de vista dos historiadores europeus que, no século XIX, davam maior importância às fontes escritas e aos fatos políticos. Por isso, todo o período anterior à invenção da escrita foi chamado de Pré-história. E, por serem europeus, esses historiadores estabeleceram como marcos divisórios das “idades” da história acontecimentos ocorridos na Europa, ou a ela relacionados, como a queda do Império Romano do Ocidente, a tomada de Constantinopla pelos turcos e a Revolução Francesa.

Deve-se ter em conta que os marcos dos períodos históricos fazem parte de um processo longo e gradativo e que as mudanças históricas não ocorrem repentinamente.

Fonte Bibliográfica:

COTRIM, Gilberto, História Global – Brasil e Geral, volume único, 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

COTRIM, Gilberto, História Global – Brasil e Geral, volume 1, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

FILOSOFIA, FELICIDADE, MITO E LOGOS - FILOSOFIA - 1° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    1° Ano  
Disciplina:   Filosofia - 2019

Filosofia, felicidade mito e logos

·      Experiência filosófica

A experiência filosófica compreende três etapas básicas:

Estranhamento ou deslocamento – trata-se do primeiro passo da experiência filosófica. Quando uma pessoa vive uma circunstância de deslocamento ou estranhamento, experimenta uma quebra ou interrupção no fluir normal de sua vida. Detém-se, então, para pensar ou observar algo que antes não via, ou que vivia de forma automática, sem se dar conta, sem atenção, sem se questionar.

Questionamento ou indagação – Trata-se do segundo passo da experiência filosófica. Após viver o estranhamento, a pessoa inicia um processo de questionamento (interno e externo) sobre o tema que lhe chamou a atenção.

Resposta filosófica – Trata-se do terceiro passo para que haja uma experiência filosófica completa. Após os dois primeiros passos, estranhamento e questionamento, trata-se agora, portanto, de construir uma resposta para os questionamentos e indagações.

Após uma reflexão serena e profunda, a resposta a ser elaborada deverá constituir um discurso, isto é, a enunciação de um raciocínio, no qual as ideias deverão estar ordenadas de maneira lógica no sentido de expressar um entendimento sobre o problema e, na medida do possível, encontrar uma “solução” para ele. Além disso, esse discurso deverá ter um caráter universal, isto é, pode ser aplicado a todos os casos ou pessoas. Essas são as características importantes de uma resposta filosófica. As respostas filosóficas não são “qualquer” resposta, pois filosofar não é pensar de qualquer maneira, seja quando se pergunta ou quando se responde.

·      O significado da palavra filosofia

A palavra filosofia é formada pelos termos gregos philos, “amigo”, “amante”, e sophia, “sabedoria”. Portanto, filosofia quer dizer “amor à sabedoria”. E sabedoria, para os gregos, não era apenas um grande saber teórico, mas principalmente prático, tendo em vista que buscava atender ao que consideravam objetivo supremo da vida humana: a felicidade.

·      A origem da palavra filosofia

Conforme a tradição histórica, a palavra filosofia foi usada pela primeira vez pelo pensador Pitágoras (570-490 a.C), quando o príncipe Leone perguntou-lhe sobre a natureza de sua sabedoria. Pitágoras respondeu: “Sou apenas um filósofo”. Com essa resposta, pretendia esclarecer que não detinha a posse da sabedoria. Assumia a posição de “amante do saber”, isto é, alguém que quer, ama e deseja o saber.

Com o decorrer do tempo, entretanto, a palavra filosofia foi ganhando um significado mais específico, passando a designar a busca de um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação racional.

·      Relação histórica entre felicidade e filosofia

A filosofia, em sua origem, há mais de 25 séculos, apresentava-se como um conhecimento superior que conduzia à vida boa, isto é, que indicava como viver para ser feliz. O filósofo se reconhecia como aquele que buscava, praticava e ensinava um método, um caminho para a felicidade. Nesse sentido, ele se tornava um sábio, e sabedoria, para os gregos, não era apenas um grande saber teórico, mas principalmente prático, tendo em vista que buscava atender ao que consideravam o objetivo supremo da vida humana: a felicidade.

·      Finalidade última

É aquela que está por detrás de todas as finalidades mais imediatas e conscientes de uma ação. Geralmente inconsciente, ela é o motivo fundamental de uma conduta.

De acordo com o pensamento filosófico, podemos supor que a felicidade é igualmente a finalidade última de todos os nossos atos, mesmo de ações que parecem “ruins” por algum tempo, ou daquelas que realmente nos fazem mal e aos outros. É que, no fundo – conforme acreditam vários filósofos e psicólogos -, a intenção última de toda ação ou conduta é “positiva” no sentido de que, consciente ou inconscientemente, a pessoa está buscando, por meio dessa ação, trazer, preservar, aumentar seu bem-estar, ou mesmo evitar, acabar com uma dor, um sofrimento, uma tristeza.       

·      Mito e logos

O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mito são duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos sendo uma argumentação pretende convencer. O mito tem por finalidade apenas por si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente por que se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano.

·      A passagem do mito ao logos

A filosofia nasceu na Grécia entre os séculos VII e VI a.C., promovendo a passagem do saber mítico (alegórico) ao pensamento racional (logos). Essa passagem ocorreu durante longo processo histórico, sem um rompimento brusco e imediato com as formas de conhecimento utilizadas no passado.

Durante muito tempo os primeiros filósofos gregos compartilhavam de crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia. Essa transição do mito à razão “significa precisamente que já havia, de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade filosófica ainda está incluído o poder do lendário.

·      A força da mensagem dos mitos

A força da mensagem dos mitos reside, portanto, na capacidade que eles têm de sensibilizar estruturas profundas, inconscientes, do psiquismo humano.

·      A mitologia grega

Os gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena etc.), além de heróis ou semideuses (Teseu, Hércules, Perseu, Aquiles, etc.) relatando a vida desses deuses e heróis e seu envolvimento com os humanos, criaram uma rica mitologia, isto é, um conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico, fornecem explicações para a realidade universal. A mitologia grega é formada por grande número de “relatos maravilhosos” ou lendas que inspiraram e ainda inspiram diversas obras artísticas ocidentais.

O mito de Édipo, rico em significados, é um exemplo disso. Na antiguidade, foi utilizado pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a.C), na tragédia de Édipo rei, para uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos indivíduos perante as normas e os tabus.
VÍDEO:


·      Polis e razão

Segundo análise do historiador e filósofo francês Jean-Pierre Vernant (1914-2007), o momento histórico da Grécia antiga em que se afirma a utilização do logos (razão) para resolver os problemas da vida estaria vinculado ao surgimento da pólis, cidade-Estado grega.

A pólis foi uma nova forma de organização social e política, desenvolvida entre os séculos VII e VI a.C., na qual os cidadãos passaram a dirigir os destinos da cidade. Entendida como criação dos próprios cidadãos, e não dos deuses, a pólis podia ser explicada e organizada de forma racional, isto é, de acordo com a razão.

Uma das características das cidades-Estado gregas – especialmente Atenas – era a prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos. Isso contribuiu para que o raciocínio bem formulado e convincente se tornasse, com o tempo, o modo adotado para refletir sobre todas as coisas, não só questões políticas.

Por isso, pra Vernant, a razão grega é filha da pólis, e o nascimento da filosofia relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual que então surgiu.


Fonte Bibliográfica:

COTRIM, Gilberto,  Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.