terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

AMÉRICA - HISTÓRIA 2° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    2° Ano  
Disciplina:   História – 2019

 AMÉRICA

·       Choque de “Humanidades”

Na América, o contato entre europeus e indígenas teve profundo impacto sobre ambos. Representou, segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda, o confronto de duas humanidades diversas, tão heterogêneas, (...) que não deixa de impor-se entre elas uma intolerância mortal.

·       Descobrimento ou conquista?

Durante muito tempo, vários historiadores transmitiram uma visão heroica dos feitos do conquistador, o que tornou corrente o uso da expressão descobrimento (da América ou do Brasil), enfatizando o “aspecto civilizador” da chegada dos europeus.

Mais recentemente, os historiadores têm analisado a questão sob outros pontos de vista, ressaltando o impacto da presença dos europeus na destruição dos modos de vida e na dizimação dos povos que viviam na América. Desse ângulo, a questão não é colocada como “descobrimento”, mas como invasão e conquista.

Não se trata, contudo, de mera preferência por palavras. O conceito de descobrimento, na maioria das vezes, relaciona-se à exaltação das ações dos europeus, ignorando os processos históricos que aconteciam no continente americano. Entretanto, a América não era um mundo a ser criado ou à espera de seu descobridor – já fora “descoberta e habitada milhares de anos antes da chegada dos europeus.

·       Conquista da América e Renascimento

A suposição de que a Terra era redonda, e a necessidade de comprovação dessa hipótese através de uma viagem, são um projeto tipicamente renascentista.

Ao descobrir outras culturas, o homem do Renascimento hierarquizou-as: da civilização à barbárie. Nesse sentido, o humanista constituiu-se a partir de uma vontade de domínio e poder sobre todos os povos do mundo.

A América – destruída e construída a partir do padrão europeu – transformava-se em lugar de comprovação da superioridade da cultura europeia. Era necessário construir uma igreja em cima de uma pirâmide indígena. Não podia ser ao lado.

Os descobridores, ao realizarem sua obra de colonização construindo igrejas e outras edificações necessárias à conquista, e os artistas, pintando ou esculpindo na Europa, consideravam a existência de um único padrão de beleza, uma única religião verdadeira, uma cultura superior a todas as outras. Descobridores e artistas olhavam o mundo de um único ponto e a partir dele destruíam e construíam.

O resultado desse esforço renascentista, dessa “plenitude”, foi suporem possuir domínio sobre a vida e a morte das populações que consideravam bárbaras. A América conheceu a expressão mais violenta desse sonho de dominação.

Janice Theodoro da Silva. Descobrimentos e Renascimento. São Paulo, Contexto, 1991. P.56-58, 63-64.

·       Os verdadeiros descobridores da América

Antes da chegada dos europeus, havia no continente americano mais de 3 mil nações indígenas. Apesar de Colombo ter chamado de “índios” os habitantes da América na época da conquista, por trás desse nome genérico encontravam-se sociedades e culturas muito diferentes.

Os aruaques, jês e tupis-guaranis (do atual Brasil), os caraíbas (das atuais Antilhas), os patagônios e araucanos (do sul do continente) e os iroqueses e sioux (da América do Norte) praticavam a caça, a pesca e a coleta, além de dominarem técnicas agrícolas. Utilizavam utensílios e instrumentos de pedra e madeira e, raramente, de metal. Deslocavam-se periodicamente em busca de recursos necessários à sua sobrevivência e organizavam-se em grupos, ligados por parentesco.

Outros povos, como os maias, os astecas e os incas, desenvolveram sociedades com técnicas agrícolas mais elaborada e um governo centralizado (com exceção dos maias, que se organizavam em cidades-Estados); criaram sistemas próprios de escrita (exceto os incas) e tinham conhecimentos sobre arquitetura, matemática e astronomia.

·       Maias, Astecas e Incas

Maias - A civilização maia, que se desenvolveu na península de Yucatán, na América Central, alcançou seu apogeu no século VII.

A economia dos mais baseava-se principalmente no cultivo do milho, feijão e batata-doce. Eles não conheciam o uso do ferro, da roda, do arado e do transporte por animais. A sociedade era dirigida por poderosos sacerdotes.

Os maias construíram grandes templos, pirâmides e observatórios de astronomia; criaram um calendário bastante preciso e um sistema de escrita; desenvolveram a pintura mural e a arte cerâmica.

Astecas – A civilização asteca desenvolveu-se a partir do século XII, na região do México atual; a capital era a cidade de Tenochtitlán (atual cidade do México). Povo guerreiro, os astecas eram governados por um rei poderoso.

Plantavam milho, feijão, cacau, algodão, tomate e tabaco. Além disso, comercializavam bens, como tecidos, peles, cerâmicas, sal, ouro e prata. Desconheciam o uso do ferro, da roda e dos animais de carga. Dominavam, entretanto, a técnica da ourivesaria (trabalhos manuais em ouro), da cerâmica e da tecelagem.

A história da conquista do império Asteca pelos espanhóis teve início em fevereiro de 1519, quando Hernan Cortés desembarcou na península Yucatá. Informado da grande quantidade de ouro existente no território asteca, Cortés decidiu ataca-lo. Combinando violência e habilidade, prendeu o imperador asteca, Montezuma, e saqueou a cidade de Tenochtitlán.

Incas – A civilização inca desenvolveu-se nas regiões que hoje correspondem a parte do Peru, do Equador, da Bolívia e do norte do Chile, alcançando seu período de maior esplendor por volta do século XIV. O Império Inca, com capital na cidade de Cuzco, chegou a ter uma população de 20 milhões de habitantes, governada por um imperador considerado um deus, o filho do Sol (o Inca). Para governar, o imperador contava com chefes militares, governadores de províncias, sacerdotes e muitos funcionários.

A economia dos incas baseava-se no cultivo de milho, batata e tabaco. Desenvolveram a tecelagem, a cerâmica, a metalurgia do bronze e do cobre; sabiam trabalhar metais preciosos, como o ouro e a prata, e utilizavam a lhama como animal de carga. Construíram palácios, templos, estradas pavimentadas, aquedutos e canais de irrigação. Não desenvolveram um sistema de escrita, mas sabiam registrar números e acontecimentos por meio dos quipos (cordões coloridos nos quais se davam nós como forma de registros de informações.

·       Os europeus na visão dos indígenas

Os indígenas formaram imagens variadas a respeito dos europeus: inimigos, invasores, deuses, demônios, impostores, loucos, entre outras. A cada uma dessas imagens ocorreu a reação correspondente. Com Colombo e Cabral, a reação foi hesitante, mas pacífica e de grande curiosidade. Outras vezes, foi de submissão, pois pensaram que os europeus fosses deuses, como no caso de Montezuma. Mas houve também casos de hostilidade e resistência imediata dos grupos indígenas, como aqueles que os conquistadores foram executados e consumidos em rituais de antropofagia.

·       Fatores que contribuíram decisivamente para a vitória dos europeus contra os indígenas

Os espanhóis utilizavam armas de fogo, o cavalo e o aço, que lhes davam ampla vantagem durante as batalhas, mesmo que estivessem em número inferior aos indígenas.

Além disso, as doenças trazidas pelos espanhóis, contra as quais os grupos indígenas não possuíam imunidade, dizimaram comunidades inteiras.

Por fim, os espanhóis souberam utilizar a rivalidade entre os povos indígenas a seu favor, já que os incas e astecas formaram seus impérios a partir da dominação sobre outros povos.

·       Os objetivos dos europeus e as consequências para a população indígena

Os espanhóis passaram a utilizar os indígenas como mão de obra escrava e fundaram missões para catequizá-los. Isso resultou na desestruturação das formas tradicionais de trabalho, da organização social e religiosa e da maneira de utilização do tempo dos povos indígenas.

·       Os indígenas na visão dos europeus

De maneiras diversas. Houve um resgate de boa parte do imaginário europeu com base em mitos antigos, como gigantes, amazonas, acéfalos etc. Mas houve também discussões e visões de cunho moral e filosófico, em que uns defendiam uma natureza inferior e bestial dos indígenas, enquanto outros, numa reflexão mais humanista, passaram a vê-los como selvagens idealizados, seres humanos em estado puro, natural, que, com sua nudez, inocência e falta de cobiça, permitiam aos europeus compreender, por comparação, a si mesmos e seu universo “civilizado”, com todas as suas deformações. Nos dois pontos de vista, a ideia de civilização (europeia) contrasta com a ausência dela na América. O civilizado pode, no primeiro caso, utilizar a não civilização em benefício próprio ou, no segundo caso, tem como obrigação tornar civilizado aquele que não é.

·       Transformação na vida europeia

Os grandes comerciantes e banqueiros europeus obtiveram lucros expressivos com a conquista e a colonização do continente americano. O eixo econômico da Europa, antes, concentrado no mar Mediterrâneo, deslocou-se para os portos do oceano Atlântico, como Lisboa, Sevilha e Cádiz, que mantinham comércio direto com os territórios conquistados na África e América.

Os países que promoveram a expansão comercial-marítima, nos séculos XV e XVI, tornaram-se poderosos na Europa. Pelo pioneirismo, destacaram-se Portugal e Espanha; posteriormente, sobressaíram França, Inglaterra e Holanda. Disputando novos mercados, onde poderiam obter lucros e riquezas, os comerciantes desses países entraram num período de grande concorrência.

Na dinâmica política ocorreu um aumento do poder político e econômico dos países ibéricos.

Culturalmente houve desenvolvimentos de novas técnicas de navegação e difusão de conhecimentos adquiridos no contato com os povos indígenas.



Fonte Bibliográfica:

COTRIM, Gilberto, História Global – Brasil e Geral, volume único, 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

COTRIM, Gilberto, História Global – Brasil e Geral, volume 1, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

ÁFRICA - HISTÓRIA 2° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    2° Ano 
Disciplina:   História – 2019

África subsaariana

  • Visão preconceituosa

A visão que se tinha da África subsaariana até a primeira metade do século XX era uma visão marcada por preconceitos, equívocos e desinformações, que reduzia os povos da África subsaariana a sociedades homogêneas, movidas apenas por costumes selvagens e crenças animistas. Eram interpretações, enfim, como animalescos, desprovidos de racionalidade, integrados primitivamente à natureza e incapazes de produzir cultura.

  • Fatores responsáveis pela ideia, no século XIX, de que a África não tinha história

- A suposição de que o continente africano era dividido em dois: um ao norte do Saara (África Setentrional) e outro ao sul (África Subsaariana).

- Os povos do sul (África Subsaariana) eram chamados de “bárbaros” por causa da cor de sua pele e de seus costumes. Faziam parte de um mundo sem história, sem Estados, e, portanto, povos homogêneos, fechados, sem desenvolvimento.

- A escassez de registros escritos dos povos da África.

- Os europeus consideravam só os documentos escritos como fontes da verdade histórica e não compreendiam a oralidade africana.

  • A oralidade africana

A tradição oral da África constitui uma fonte indispensável de transmissão de informações. Por meio dela os povos africanos preservam sua memória.

Existem os sábios, “guardiões da palavra falada”, também chamados de “tradicionalistas”, que são responsáveis em transmitir, de geração em geração, as tradições de seus povos. Também existem os “griôs”, que são contadores de histórias e animadores públicos. Estes não tem o mesmo compromisso rígido dos “tradicionalistas”.

  • Pluralidade cultural

Novos estudos revelaram a diversidade dos povos africanos e suas múltiplas culturas, desenvolvidas ao longo de milênios de história. Quanto às atividades econômicas, por exemplo, percebeu-se que se dedicavam a uma agricultura e uma pecuária variadas. No artesanato, desenvolveram diferentes técnicas de cerâmica, tecelagem, carpintaria e metalurgia do ouro, cobre, ferro, chumbo e estanho. Também mostraram que foram importantes para o desenvolvimento das distintas sociedades africanas as trocas culturais e comerciais que tiveram com outras sociedades, dentro e fora do continente, como os muçulmanos do norte da África, persas, indianos e árabes. Desse modo, a África, que é rica em diversidade se fraciona em incontáveis culturas e nela falam-se inúmeros idiomas (cerca de 1250).

  • O Reino de Kush

Ao sul do antigo Egito desenvolveu-se uma sociedade de população negra, chamada pelos nativos da região de Núbia. Esta sociedade foi registrada pelos egípcios e pela Bíblia com nome de Kush, cuja capital ficava em Kerma.

 No início, egípcios e núbios, mantinham relações comerciais e alianças militares. Mas o desenvolvimento das duas civilizações também teve momentos de conflitos.

Por volta de 1580 a.C., querendo controlar a minas de ouro da região, os egípcios conquistaram e anexaram a Núbia.

Em 750 a.C., porém, Khasta, rei de Kush, invadiu o Egito e derrubou o faraó. Seu filho, Pianky, assumiu o título de faraó e inaugurou a 25ª dinastia egípcia.

No século IV, o Reino de Kush foi dominado por guerreiros do reino de Axum, situado a sudeste, nas margens do mar Vermerlho. Axum foi o primeiro reino cristão da África, considerado potência comercial do nordeste africano.

  • Os reinos de Gana e Mali

Entre o deserto do Saara, que atravessa o norte da África de leste a oeste, e a floresta úmida, mais ao sul, existe uma faixa de terra conhecida como Sahel. Foi no oeste dessa região que se desenvolveram, depois de Kush, alguns dos principais reinos africanos. Um desses reinos chamava-se Gana.

No reino de Gana a produção de alimentos era um dos pontos altos da economia, mas em seu período mais brilhante, entre os séculos IX e Xi, o ouro tornou-se a principal riqueza do reino. Sua produção era tão grande que Gana chegou a ser o principal fornecedor de ouro do mundo

Em Gana, havia uma divisão social entre escravos e pessoas livres. Além disso, a unidade familiar comandada por um homem era muito importante. As pessoas livres viviam sob uma subdivisão, que se conformava de acordo com questões como a ancestralidade e as atividades laborais desempenhadas.

Os mansas e os reis de Gana demonstravam suas riquezas através de audiências públicas, distribuíam presentes e exibiam o ouro extraído da região de Gana.

Uma das características do Reino de Gana foi a ausência de fronteiras bem definidas. Na verdade, Gana nunca chegou a se constituir um império territorial, mas sua influência se fez sentir em ampla região circunvizinha.

Nesta região também viviam os povos mandingas, organizados em clãs mais ou menos dispersos. Em 1230, em quanto Gana decaía, esses clãs eram unificados por Sundiata Keita. Surgiu assim o reino do Mali.

Uma vez constituídos em reino, os mandingas começaram a expandir seu território, que chegou a ser maior do que o de Gana. Nessa expansão, o Reino de Mali passou a controlar grandes jazidas de ouro e importantes rotas do comércio transaariano.

  • Os Bantos

O termo Bantos abrange diversos povos africanos cujos idiomas são originários de um mesmo tronco linguístico. Por volta do século XII, os bantos viviam sobretudo da caça e da pesca e da coleta de alimentos. Isso os obrigava a procurar novos territórios sempre que se esgotavam os recursos naturais do lugar em que estavam. Nesse processo, ocuparam todo o centro e centro-sul do continente africano.

            Originários da região-centro oeste da África onde hoje se encontram a Nigéria e a República dos Camarões, a expansão dos bantos iniciou-se, provavelmente, nos primeiros anos da era cristã e durou até o século XIX. Foi no decorrer dessa expansão que fundaram os reinos do Congo e do Zimbábue.

  • O Reino do Congo

Na segunda metade do século XIII, povos bantos formaram o chamado Reino do Congo, na região ao sul do rio Congo. Esse reino expandiu-se ocupando territórios dos atuais Estados africanos de Angola, Congo e República Democrática do Congo.

Quando os portugueses estabeleceram os primeiros contatos com o Reino do Congo, encontraram uma sociedade organizada, sob o comando de um rei, o mani Congo, que vivia na capital (Banza Congo) cercado pelo família, corte e conselheiros. Cabia ao mani Congo receber tributos (na forma de alimentos, tecidos, sal, metais valiosos etc.) administrar a justiça e controlar o comércio.

A autoridade do mani Congo compreendia também a dimensão religiosa. Seu poder se impunha entre os chefes dos clãs familiares locais (candas), pelas diversas aldeias (lubatas) e cidades (banzas).

Portugueses e congoleses estabeleceram relações amistosas e parcerias comerciais, no entanto, a partir do século XVII, as relações amistosas entre congoleses e portugueses se degeneraram em razão de vários conflitos que giravam, principalmente, em torno do tráfico de escravos fomentado pelos europeus. Controlando a região de Angola, os portugueses se aliaram aos inimigos dos congoleses (jaga). Ao longo de sucessivos combates, saquearam as cidades do Congo e, por fim, mataram o rei congolês em 1665.

  • A interferência portuguesa no Congo

Os portugueses interferiram na dinâmica da sociedade congolesa pois estabeleceram intensas trocas comerciais, sobretudo escravos, alteraram as crenças religiosas dos reis, de sua família, seus conselheiros e da corte

  • A importância do comércio para os reinos de Gana, Mali e Congo

O comércio era uma atividade importante para os reinos de Gana, Mali e Congo. A atividade comercial de alimentos, animais, artesanato e joias movimentava as cidades e as rotas comerciais e era uma das atividades mais dinâmicas e rendosas para os reinos.

  • A Escravidão na África

Bem antes da chegada dos primeiros europeus, no século XV, em muitas regiões da África vigorava, ao lado do trabalho livre, o trabalho escravo. Geralmente, os escravos eram membros dominados de grupos familiares que não tinham ligações com a rede de parentesco dominante.

Nessas regiões, os escravos desempenhavam praticamente as mesmas funções que os membros da linhagem dominante: trabalho cooperativo nos campos, expedições de caça, defesa das cidades e participação em cerimônias religiosas. A escravidão não era, portanto, uma instituição essencial, coexistindo com outras formas de dependência. Não se pode, neste caso, falar de sociedades escravistas.

Com a chegada dos portugueses, no começo do século XV, teve início o comércio de grande escala de escravos, envolvendo a aplicação de vultosos capitais.

Com a conquista da América por espanhóis, portugueses e outros povos europeus, o tráfico negreiro pelo Atlântico chegaria, segundo estimativas mais aceitas, a 11.313.000 escravos, entre os séculos XVI e XIX. Esse comércio provocou profundas mudanças na organização social da África. Com tráfico negreiro em grande escala a escravidão na África deixou de ser uma entre outras formas de dependência pessoal, como ocorria anteriormente. A partir de então, o continente africano foi integrado a uma rede internacional de escravidão controlada pela burguesia mercantil europeia.

Fonte Bibliográfica:

ARRUDA, José Jobson de A., PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil, Ensino Médio, volume único. São Paulo: Editora Ática,

COTRIM, Gilberto, História Global – Brasil e Geral, volume 1, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

SOCIOLOGIA NO BRASIL E FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO - SOCIOLOGIA 2° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça

Prof.: Cássio Vladimir de Araújo 

Série:    2° Ano 

Disciplina:   Sociologia - 2019

SOCIOLOGIA NO BRASIL  - GERAÇÃO DE 1930

·       Origem

A Sociologia sempre teve como um dos objetos de estudos o conflito entre as classes sociais. Na América Latina, por exemplo, a Sociologia do início do século XX sofreu intensas influências das teorias marxistas, na medida em que suas preocupações passaram a ser o subdesenvolvimento dos países latinos.

No Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, estudiosos se debruçaram em busca do entendimento da formação da sociedade brasileira, analisando temas como abolição da escravatura, êxodos e estudos sobre índios e negros. Dentre os autores mais significativos, temos: Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil-1936), Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala-1933) e Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemporâneo-1942)

Nas décadas seguintes, a Sociologia praticada no Brasil voltou-se aos estudos de temas relacionados às classes trabalhadoras, tais como salários e jornadas de trabalho, e também comunidades rurais.

Na década de 1960 a Sociologia passou a se preocupar com o processo da industrialização do país, nas questões de reforma agrária e movimentos sociais na cidade e no campo; a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se voltou para os problemas socioeconômicos e políticos brasileiros, originados pela tensão de se viver num regime militar (ou ditadura militar, que no Brasil foi de 1964 a 1985), nesse período a Sociologia foi banida do ensino secundarista.

Na década de 1980 a Sociologia finalmente voltou a ser disciplina no ensino médio, sendo facultativa sua presença na grade curricular. Também ocorreu nesse período a profissionalização da Sociologia no Brasil. Além da preocupação com a economia, política e mudanças sociais apropriadas com a instalação da nova república (1985), os sociólogos diversificaram os horizontes e ampliaram seus leques de estudos, voltaram-se para o estudo da mulher, do trabalhador rural e outros assuntos culminantes.

Em 2009, a Sociologia tornou-se disciplina obrigatória na grade curricular dos alunos do ensino médio no Brasil. A oportunidade da aproximação do aluno com a Sociologia, como um campo do saber, tem por objetivo a desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais. Em outras palavras e sem perder de vista a importância da História, é considerar que as coisas nem sempre foram do jeito que são. É perceber que há mudanças profundas ao longo da história, fruto de decisões de homens.

Orson Camargo


·       Formação do povo brasileiro

Uma só palavra ou teoria não seria capaz de abarcar todos os processos e experiências históricas que marcaram a formação do povo brasileiro. Marcados pelas contradições do conflito e da convivência, constituímos uma nação com traços singulares que ainda se mostram vivos no cotidiano dos vários tipos de “brasileiros” que reconhecemos nesse território de dimensões continentais para sua existência social como objeto de estudo.

·       O europeu e o índio

A primeira marcante mistura aconteceu no momento em que as populações indígenas da região entraram em contato com os colonizadores do Velho Mundo. Em meio ao interesse de exploração e o afastamento dos padrões morais europeus, os portugueses engravidaram várias índias que deram à luz nossa primeira geração de mestiços. Fora da dicotomia imposta entre os “selvagens” (índios) e os “civilizados” (europeus), os mestiços formam um primeiro momento do nosso variado leque de misturas.

·       O europeu e o negro

Tempos depois, graças ao interesse primordial de se instalar a empresa açucareira, uma grande leva de africanos foi expropriada de suas terras para viverem na condição de escravos. Chegando a um lugar distante de suas referências culturais e familiares, tendo em vista que os mercadores separavam os parentes, os negros tiveram que reelaborar o seu meio de ver o mundo com as sobras daquilo que restava de sua terra natal.

Isso não quer dizer que eles viviam uma mesma realidade na condição de escravos. Muitos deles, não suportando o trauma da diáspora, recorriam ao suicídio, à violência e aos quilombos para se livrar da exploração e elaborar uma cultura à parte da ordem colonial. Outros conseguiam meios de comprar a sua própria liberdade ou, mesmo sendo vistos como escravos, conquistavam funções e redes de relacionamento que lhes concediam uma vida com maiores possibilidades.

Não se limitando na esfera de contato entre o português e o nativo, essa mistura de povos também abriu novas veredas com a exploração sexual dos senhores sobre as suas escravas. No abuso da carne de suas “mercadorias fêmeas”, mais uma parcela de inclassificáveis se constituía no ambiente colonial. Com o passar do tempo, os paradigmas complexos de reconhecimento dessa nova gente passou a limitar na cor da pele e na renda a distinção dos grupos sociais.

·       Outras gentes

Ainda assim, isso não impedia que o caleidoscópio de gentes estabelecesse uma ampla formação de outras culturas que marcaram a regionalização de tantos espaços. Os citadinos das grandes metrópoles do litoral, os caipiras do interior, os caboclos das regiões áridas do Nordeste, os ribeirinhos da Amazônia, a região de Cerrado e os pampas gaúchos são apenas alguns dos exemplos que escapam da cegueira restritiva das generalizações.

·       Outros povos

Enquanto tantas sínteses aconteciam sem alcançar um lugar comum, o modelo agroexportador foi mui vagarosamente perdendo espaço para os anseios da modernização capitalista. A força rude e encarecida do trabalho escravo acabou abrindo espaço para a entrada de outros povos do Velho Mundo. Muitos deles, não suportando os abalos causados pelas teorias revolucionárias, o avanço do capitalismo e o fim das monarquias, buscaram uma nova oportunidade nessa já indefinida terra brasilis.

Italianos, alemães, poloneses, japoneses, eslavos e tantos mais não só contribuíram para a exploração de novas terras, como cumpriram as primeiras jornadas de trabalho em ambiente fabril. Assim, chegamos às primeiras décadas do século XX, quando nossos intelectuais modernistas pensaram com mais intensidade essa enorme tralha de culturas que forma a cultura de um só lugar. E assim, apesar das diferenças, frestas, preconceitos e jeitinhos, ainda reconhecemos o tal “brasileiro”.



SOCIEDADE E ECONOMIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA



  • Sociedade rural

Considerando que 69,7% da população trabalhava no setor agrícola e uma parte do setor de serviços situava-se também na zona rural, podemos dizer que cerca de ¾ da população brasileira ativa trabalhava na zona rural. Os 13,8% que atuavam na indústria, por sua vez, mais a outra parte dos profissionais do setor de serviços, totalizariam, aproximadamente, o outro ¼ da população e estariam sediados em zonas urbanas.

  • Coronelismo

Coronelismo foi o sistema de dominação, característico da Primeira República, exercido por grandes proprietários rurais (os “coronéis), que se tornaram verdadeiros “caciques” ou líderes políticos das cidades ou regiões onde estavam estabelecidos. Em suas fazendas, os coronéis exploravam um grande número de trabalhadores, que recebiam salários miseráveis e passavam a depender de seu auxílio (na forma de empréstimos em dinheiro, educação dos filhos e em momentos de doença). Nas cidades, eles controlavam, pessoalmente, os principais empregos e cargos: na prefeitura, na delegacia, na escola, no cartório público e na estação de trem; os comerciantes, médicos, advogados, prefeitos, vereadores, delegados, juízes, padres e professores procuravam se aproximar dos coronéis, em busca de favores.

  • As exportações brasileiras

No período de 1889 a 1933 o café liderou a pauta de exportações. Não considerando outros produtos, o segundo lugar foi ocupado pela borracha, entre 1889 e 1918, e por couro e peles, entre 1919 e 1933. Durante a Primeira Guerra Mundial o produto que teve a maior queda significativa das exportações foi o café.

  • O café

Durante a Primeira República, o estímulo as atividades agroexportadoras esteve entre as prioridades do governo federal. O café, o “ouro verde”, representou o principal produto de exportação. No início do século XIX, As plantações de café já haviam se expandido por diversos estados além de São Paulo e do Rio de Janeiro.

A maioria dos imigrantes utilizados nas fazendas de café provinha de regiões rurais da Europa. Eles entraram no país entre o final do século XIX e início do XX        e foram trabalhar, principalmente, nos cafezais de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com o passar dos anos, muitos imigrantes abandonaram os cafezais e seguiram em direção às cidades em busca de melhores condições de vida e trabalho.

  • A borracha e o cacau

Além do café, a borracha e o cacau também tiveram seu apogeu na pauta de exportações brasileiras durante a Primeira República. O declínio na venda desses produtos ocorreu porque os países compradores da Europa começaram a investir em sua produção: Inglaterra e Holanda passaram a cultivar seringais na Malásia, no Ceilão e na Indonésia; o cacau passou a ser cultivado pelos ingleses na Costa do Ouro (África). Essas produções logo conquistaram os mercados internacionais, fazendo declinar as vendas do cacau e da borracha brasileiros.

  • Imigração, industrialização e mudanças sociais

O período da Primeira República também foi marcado pela grande imigração, principalmente europeia, e pelo avanço industrial no país. Os dois processos tiveram diversos impactos na sociedade brasileira, entre os quais se destaca o surgimento do movimento operário.

  • Imigração para São Paulo

O estado de São Paulo, com cerca de 57% do total de imigrantes, foi o estado brasileiro que recebeu o maior número de imigrantes entre 1890 e 1930. Isso se deveu, em boa medida, à expansão da economia cafeeira, que abria milhares de postos de trabalho, e à política do governo paulista de incentivo à imigração, fazendo propaganda no exterior e concedendo passagens e alojamentos aos imigrantes.

  • Fatores que impulsionaram a industrialização na Primeira República

A expansão dos cafezais, paralelamente às crises de superprodução, quando muitos cafeicultores aplicaram seus lucros na indústria, além da existência de um grande número de ex-escravos e imigrantes que deixaram o campo e o trabalho na agricultura em busca de novas oportunidades, representando oferta de mão de obra para o setor industrial.

  • As condições de trabalho dos operários na indústria

Os operários eram submetidos a jornadas de trabalho muito longas (15 horas por dia, de segunda a sábado e, às vezes, até domingo); para suprir os salários muito baixos, a família toda era obrigada a trabalhar. Não havia legislação que assegurasse direitos trabalhistas, como salário mínimo, férias, aviso prévio ou indenização em caso de demissão. Os locais de trabalho apresentavam condições muito ruins: pouco espaço, sem iluminação, ventilação ou cuidados com higiene e segurança. Os acidentes de trabalho eram muito frequentes e atingiam principalmente as crianças, que também sofriam outras formas de violência (incluindo castigos físicos). As mulheres eram, ainda, vítimas de assédio sexual por parte de mestres e contramestres. Em reação, surgiram várias formas de organização operária, entre elas os sindicatos, que lutaram pela conquista dos direitos trabalhistas e sociais.

  • A primeira greve geral de operários no Brasil

Em julho de 1917 ocorreu a primeira greve geral de operários no Brasil, quando houve vários enfrentamentos com a polícia, e o sapateiro anarquista José Martinez, de 21 anos de idade, morreu baleado. Os grevistas reivindicavam aumentos salariais, jornada de trabalho de oito horas, direito de associação, libertação dos grevistas presos etc.

  • Reação das elites econômicas e das autoridades

Na greve geral de 1917 tiveram de negociar, fazendo várias promessas, que depois não foram totalmente cumpridas. Para as elites políticas e econômicas do país, insensíveis às necessidades dos trabalhadores, as manifestações operárias não passavam de baderna, que afetava seus interesses, sendo consideradas por isso “caso de polícia” (expressão do presidente da República Washington Luís). Assim, os protestos dos trabalhadores não mereceram a devida atenção dos empresários e dos políticos até o final desse período, sendo tratados com o uso da violência policial.


VÍDEO1: MÚSICA "ÍNDIOS" (COUVER ACÚSTICO) - LEGIÃO URBANA

VÍDEO2: MÚSICA "RACISMO É BURRICE" - GABRIEL PENSADOR

VÍDEO3: AGORA É BRA - SE LIGAÊ


Fonte Bibliográfica:

BOMENY, Helena... [et ali] (coordenação), Tempos modernos, tempos de sociologia: ensino médio, volume único, 2. ed. São Paulo: Editora do Brasil, 2013.

COTRIM, Gilberto, Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

CAMARGO, Orson. "Sociologia no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 19 de janeiro de 2017.

SOUSA, Rainer Gonçalves. "Formação do Povo Brasileiro"; Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 19 de janeiro de 2017.

CULTURA, ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL - SOCIOLOGIA 3° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    3° Ano  
Disciplina:   Sociologia - 2019

CULTURA

·       Conceitos

Cultura e ideologia talvez sejam os conceitos mais amplos das ciências sociais, com diferentes definições.

O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto de estudo de diversas ciências sociais. Félix Guattari, pensador francês (1930-1992) interessado nesse tema, reuniu os diferentes significados de “cultura” em três grupos, por ele designados cultura-valor, cultura-alma coletiva e cultura-mercadoria.

Cultura valoré o sentido mais antigo e aparece claramente na ideia de “cultivar o espírito”. É o que permite estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem ou determinar se o indivíduo pertence a um meio culto ou inculto, definindo um julgamento de valor sobre essa situação. Nesse grupo inclui-se o uso do termo para identificar, por exemplo, quem tem ou não cultura clássica, artística ou científica.

Cultura-alma coletivaé sinônimo de “civilização”. Ele expressa a ideia de que todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Nessa acepção, pode-se falar de cultura negra, cultura chinesa, cultura marginal, etc. Tal expressão presta-se assim aos mais diversos usos por aqueles que querem dar um sentido para a ação dos grupos aos quais pertencem, com a intenção de caracterizá-los ou identifica-los.

Cultura-mercadoria corresponde à “cultura de massa”. Ele não comporta julgamento de valor, como o primeiro significado, nem delimitação de um território específico, como o segundo. Nessa concepção, cultura compreende bens ou equipamentos – como os centros culturais, os cinemas, as bibliotecas - , as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos, e os conteúdos teóricos e ideológicos de produtos – como filme, discos e livros – que estão à disposição de quem quer e pode compra-los, ou seja, que estão disponíveis no mercado.

As três concepções de cultura estão presentes em nosso dia a dia, marcando sempre uma diferença bastante clara entre as pessoas – seja no sentido mais elitista (entre as que têm e as que não têm uma cultura clássica e erudita, por exemplo), seja no sentido de identificação com algum grupo específico, seja ainda em relação à possibilidade de consumir bens culturais. Todas essas concepções trazem a uma carga valorativa, dividindo indivíduos, grupos e povos entre os que têm e os que não têm cultura ou, mesmo, entre os que têm uma cultura superior e os que têm uma cultura inferior.

·       Cultura segundo a antropologia

O conceito de cultura com frequência é vinculado à Antropologia, como se fosse específico dessa área do conhecimento. Por isso vamos verificar como os antropólogos, partindo de uma visão universalista para uma visão particularista, definiam esse conceito

Edward B. Taylor – Uma das primeiras definições de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edward B. Taylor (1832-1917). De acordo com esse autor, cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Trata-se de uma definição universalista, ou seja, muito ampla, com a qual se procura expressar a totalidade da vida social humana, a cultura universal.

Franz Boas – Já o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942), que desenvolveu a maior parte de seus trabalhos nos Estados Unidos, tinha uma visão particularista. Ele pesquisou as diferentes formas culturais e demonstrou que as diferenças entre os grupos e sociedades humanas eram culturais, e não biológicas. Por isso, recusou a qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta.

Bronislaw Malinowski – o antropólogo inglês, Bronislaw Malinowski (1884-1942), antropólogo inglês, afirmava que, para fazer uma análise objetiva, era necessário examinar as culturas em seu estado atual, sem preocupações com suas origens. Concebia as culturas como sistemas funcionais e equilibrados, formados por elementos interdependentes que lhes davam características próprias, principalmente no tocante às necessidades básicas, como alimento, proteção e reprodução. Por ser interdependentes, esses elementos são poderiam ser examinados isoladamente.

Claude Lévi-Strauss – para Claude Lévi-Strauss (1908-2009), antropólogo que nasceu na Bélgica, mas desenvolveu a maior parte de seu trabalho na França, a cultura deve ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a linguagem, as regras matrimoniais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Esses sistemas se relacionam e influenciam a realidade social e física das diferentes sociedades.

A grande preocupação de Lévi-Strauss foi analisar o que era comum e constante em todas as sociedades, ou seja, as regras universais e os elementos indispensáveis para a vida social. Um desses elementos seria a proibição do incesto (relações sexuais entre irmãos ou entre pais e filhos), presente em todas as sociedades. Partindo dessa preocupação, ele desenvolveu amplos estudos sobre os mitos, demonstrando que os elementos essenciais da maioria deles se encontram em todas as sociedades ditas primitivas.

ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL

·       Convivência com a diferença: o etnocentrismo

Ter uma visão de mundo, avaliar determinado assunto sob certa ótica, nascer e conviver em uma classe social, pertencer a uma etnia, ser homem ou mulher são algumas das condições que nos levam a pensar na diversidade humana, cultural e ideológica, e, consequentemente, na alteridade, isto é, no outro ser humano, que é igual a cada um de nós e, ao mesmo tempo, diferente.

Observa-se, no entanto, grande dificuldade na aceitação das diversidades em uma sociedade ou entre sociedades diferentes, pois os seres humanos tendem a tomar seu grupo ou sociedade como medida para avaliar os demais. Em outras palavras, cada grupo ou sociedade considera-se superior e olha com desprezo e desdém os outros, todos como estranhos ou estrangeiros. Para designar essa tendência, o sociólogo estadunidense William G. Summer (1840-1910) criou em 1906 o termo etnocentrismo.

Portanto, o etnocentrismo é a prática, rejeitada pela antropologia, de julgar outras culturas com base na própria cultura do julgador. A postura etnocêntrica reflete um sentimento de superioridade de um dado grupo em relação aos outros grupos sociais. Quanto maior a crença na superioridade de certo grupo, em todos os aspectos importantes, maior será a probabilidade de se responsabilizar os membros de outros grupos por acontecimentos não desejados. A radicalização do etnocentrismo leva muitas vezes a conflitos sociais graves entre grupos sociais.

Manifestações de etnocentrismo podem ser facilmente observadas em nosso cotidiano. Quando lemos notícias sobre crises enfrentadas por povos de outros países, por exemplo, com frequência estabelecemos comparações entre a cultura deles e a nossa, considerando a nossa superior, principalmente se as diferenças forem muito grandes. Na história não faltam exemplos desse tipo de comparação: na Antiguidade os romanos chamavam de “bárbaros” aqueles que não eram de sua cultura; no Renascimento, após os contatos com culturas diversas propiciadas pela expansão marítima, os europeus passaram a chamar os povos americanos de “selvagens”, e assim por diante.

O etnocentrismo foi um dos responsáveis pela geração de intolerância e preconceito – cultural, religioso, étnico e político -, assumindo diferentes expressões no decorrer da história. Em nossos dias ele se manifesta, por exemplo, na ideologia racista da supremacia do branco sobre o negro ou de uma etnia sobre as outras. Manifesta-se, também, num mundo globalizado, na ideia de que a cultura ocidental é superior, e os povos de culturas diferentes devem assumi-la, modificando suas crenças, normas e valores. Essa forma de etnocentrismo pode levar a consequências sérias em nossa convivência com os outros e nas relações entre os povos.

·       Relativismo cultural

A posição cultural relativista tem como fundamento a ideia de que os indivíduos são condicionados a um modo de vida específico e particular, por meio de processo de endoculturação (processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte. Este processo de aprendizagem é permanente, desde a infância até à idade adulta de um indivíduo). Adquirem, assim, seus próprios sistemas de valores e sua própria integridade cultural.

Toda cultura é considerada como configuração saudável para os indivíduos que a praticam. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a ideia de normas e valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre relativas à própria cultura onde surgem.

Os padrões ou valores de certo ou errado, dos usos e costumes, das sociedades em geral, estão relacionados com a cultura da qual fazem parte. Dessa maneira, um costume pode ser válido em relação a um ambiente cultural e não a outro e, mesmo, ser repudiado.

Exemplo – No Brasil, come-se manteiga; na África, ela serve para untar o corpo. Pescoços longos (mulheres-girafas da Birmânia), lábios deformados (indígenas brasileiros), nariz furado (indianas), escarificação facial (entre aborígenes australianos), deformações cranianas (índios sul-americanos) são valores culturais para essas sociedades. Esses tipos de adornos significam beleza. O infanticídio e o gerontocídio, costumes praticados em algumas culturas (esquimós), são totalmente rejeitados por outras.

O confronto entre o relativismo cultural e o etnocentrismo coloca algumas questões importantes, tais como: todas as práticas culturais devem ser consideradas como igualmente legítimas? Existem padrões universais que todos os indivíduos devem seguir?

VÍDEO1: MÚSICA INCLASSIFICÁVEIS

VÍDEO2: MÚSICA DIVERSIDADE - LENINE

VÍDEO3: MÚSICA RACISMO É BURRICE - GABRIEL PENSADOR


Fonte Bibliográfica:

PENA, Marcelo, Pré-Universitário: filosofia & Sociologia, anual, volume único – Fortaleza: FB Editora, 2014

TOMAZI, Nelson Dacio. , Sociologia para o ensino médio, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.