terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

FRIEDRICH NIETZSCHE - FILOSOFIA 3° ANO


Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo  
Série:    2° Ano  
Disciplina:   Filosofia - 2019

FRIEDRICH NIETZSCHE



·       Uma filosofia “a golpe de martelo”

Nietzsche realizou uma crítica radical e impiedosa da tradição filosófica e dos valores fundamentais da civilização ocidental, construindo um pensamento diferente e original, uma filosofia a golpes de martelo”, como ele mesmo a definiu. Junto com Marx e Freud, foi classificado como um dos três mestres da suspeita pelo filósofo francês Paul Ricoeur. Pela influência que teve sobre os pensadores das filosofias da existência, é considerado um pré-existencialista por vários historiadores da filosofia.

Nascido em Röcken, perto de Leipzig, na Alemanha, Nietzsche (1844-1900) era filho e neto de pastores protestantes. Em 1858, conseguiu uma bolsa de estudos na escola de Pforta, a mesma onde havia estudado Fichte.

Na juventude, foi bastante influenciado pelo Romantismo, tornando-se admirador de Schiller, que mais tarde iria criticar. Na adolescência estudou a Bíblia e os autores clássicos da cultura grega. Em Bonn, já afastado do cristianismo por influência das leituras e de alguns professores, estudou filosofia e teologia, passando por um curto período de intensa boemia. Em 1869, tornou-se professor de filologia grega na Universidade da Basileia na Suíça.

Nietzsche foi um grande admirador do músico Rlichard Wagner e apaixonado por sua obra, mas acabou se indispondo com o compositor, a ponto de lhe tecer duras críticas.

Com saúde precária, em 1879 deixou de dar aulas. De 1883 a 1885, escreve sua principal obra, “Assim falou Zaratustra”, na qual expõe as ideias do eterno retorno e da derrota da moral cristã pelo além-do-homem (da expressão alemã Übermensch, “sobre-humano”, “que transpõe os limites do humano”. Em algumas traduções, é usado o termo “super-homem”)



·       Apolíneo e dionisíaco

Em sua obra, Nietzsche também criticou a tradição da filosofia ocidental a partir de Sócrates, a quem acusa de ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática.

Nessa análise, o filósofo alemão estabelece a distinção entre dois princípios: o apolíneo e o dionisíaco, a partir dos deuses gregos Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem), respectivamente.

Para Nietzsche, esses dois princípios ou dimensões complementares da realidade- o apolíneo e o dionisíaco – foram separados na Grécia socrática, que, optando pelo culto à razão, secou a seiva criadora da filosofia, contida na dimensão dionisíaca. Para o filósofo, o mundo seria o reino das misturas, das turbulências, das complexidades, razão pela qual se opôs às cisões separadoras entre alto e baixo, superior e inferior, ideal e real, sensível e inteligível, como ocorreu a partir do período clássico do pensamento grego antigo.



·       A transvaloração dos valores e a genealogia da moral

Nietzsche desenvolveu uma crítica intensa dos valores morais, propondo uma nova abordagem: a genealogia da moral, isto é, o estudo da formação histórica dos valores morais. Sua conclusão foi de que o bem e o mal não constituem noções absolutas, no entendimento de que as concepções morais são elaboradas pelos seres humanos a partir dos interesses humanos. Ou seja, são produtos histórico-culturais.

Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche preconiza a “transvaloração de todos os valores”. Diz a filósofa Scarlett Marton



“A noção nietzschiana do valor opera uma subversão crítica: ela põe de imediato a questão do valor dos valores e esta, ao ser colocada, levanta a pergunta pela criação dos valores. Se até agora não se pôs em causa o valor dos valores “bem e mal”, é porque se supôs que existiram desde sempre; instituídos num além, encontravam legitimidade num mundo suprassensível. No entanto, uma vez questionados, revelam-se apenas “humanos, demasiado humanos”; em algum momento e em algum lugar, simplesmente foram criados.

MARTON, Scarlett. Nietzsche: a transvaloração dos valores. São Paulo: Moderna, 1993. P. 50. (Coleção Logos).



Apesar de sua origem humana, essas concepções são impostas pelas religiões – o judaísmo e o cristianismo – como se fossem produtos da “vontade de Deus” e, portanto, valores absolutos. E estes valores carregaram as pessoas com as noções e os sentimentos de dever, culpa, dívida e pecado. O resultado foi a configuração de indivíduos medíocres, tímidos, insossos, não criativos, depauperados e submissos.

Por isso, Nietzche denunciou a existência de uma “moral de rebanho” na civilização cristã e burguesa, pois essa moral estaria baseada na submissão irrefletida e acomodada de grande parte das pessoas aos valores dominantes.

Portanto, para o filósofo, se cada pessoa compreender que os valores presentes em sua vida são construções humanas, estará no dever de refletir sobre suas concepções morais e questionar o valor de seus valores, enfrentando o desafio de viver por sua própria conta e risco.



·       Genealogia da moral

Considerando que os valores não existiram desde sempre, mas foram criados, Nietzche propõe a genealogia como método de investigação sobre a origem deles. Mostra como forma criadas lacunas – o que não foi dito ou foi recalcado -, permitindo que alguns valores predominassem sobre outros, até se tornarem, aos poucos, conceitos abstratos e inquestionáveis.

Pela genealogia, Nietzhe descobre que os instintos vitais foram submetidos e degeneraram. Denuncia a falsa moral, “decadente”, “de rebanho”, “de escravos”, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próximo. E, desse modo, ressalta os valores comprometidos com o “querer-viver”. Distingue então a moral dos escravos e a moral de senhores.

a)    Moral de escravos

Herdeira do pensamento socrático-platônico e da tradição judaico-cristã, a moral de escravos consiste na tentativa de subjugação dos instintos pela razão. O homem-fera, anima de rapina, é transformado em animal doméstico ou cordeiro. A moral plebeia estabelece um sistema de juízos em que o bem e o mal são valores metafísicos transcendentes, isto é, independentes da situação concreta vivida.

A moral de escravos nega os valores vitais e resulta na passividade, na procura da paz e do repouso. O indivíduo se enfraquece e sua potência diminui. A conduta humana, orienta pelo ideal ascético, torna-se vítima do ressentimento e da má consciência – o sentimento de culpa.

Ao criar a noção de pecado, o sentimento de culpa torna-se um ressentimento voltado contra si mesmo e inibidor da ação. O ideal ascético nega a alegria da vida e faz da mortificação o meio para alcançar a outra vida num mundo superior, do além. As práticas de altruísmo destroem o amor de si, domesticando os instintos.

b)    Moral de senhores

A moral que visa à conservação da vida e dos seus instintos fundamentais é positiva porque se baseia no sim à vida e configura-se sob o signo da plenitude, do acréscimo. Ela se funda na capacidade de criação, de invenção, cujo resultado é a alegria, consequência da afirmação da potência. O indivíduo que consegue se superar é o que atingiu o além-do-homem. É aquele que reavalia os valores, para desprezar os que o diminuem e criar outros que tenham compromisso com a vida.

Além-do-homem: da expressão alemã Übermensch, “sobre-humano”, “que transpõe os limites do humano”. Em algumas traduções, é usado o termo “super-homem”.



·       Vontade de potência

Há quem pense que Nietzsche chega ao extremo individualismo e amoralismo. Muitos até o chamaram de niilista, (Niilismo. Do latim nihil, “nada”) para acusa-lo de negar os valores, o que não faz jus ao seu pensamento. Ao contrário, filósofo atribuía o niilismo à moral decadente dos valores tradicionais, que acomodaram o ser humano na mediocridade uniformizadora. Destruir esses valores é condição para que possam nascer os valores novos do além-do-homem, o que só é alcançado pela vontade de poder (vontade de potência). Também essa expressão pode levar a confusões: não se trata do poder que domina os outros, mas de forças vitais entorpecidas e recuperadas pelo indivíduo dentro de si “num dionisíaco dizer-sim ao mundo”.

O poder é virtude no sentido de força, vigor, capacidade. Portanto, virtude é autorrealização. Se essa moral valoriza a individualidade, o faz tanto pra quem a detém como para os outros, pois permite a cada um ser ele mesmo.



·       Niilismo

Segundo a análise de Nietzsche, no momento em que o cristianismo deixou de ser a “única verdade” para se tornar uma das interpretações possíveis do mundo (o que se deu a partir da idade moderna), toda a civilização ocidental e seus valores absolutos também foram postos em xeque. Nesse contexto, ocorreu uma escalada ao niilismo, que “deve ser entendido como um sentimento opressivo e difuso, próprio às fases agudas de ocaso de uma cultura. O niilismo seria a expressão afetiva e intelectual da decadência” (Giacoia J., Nietzsche, p. 64-65).

De acordo com Nietzsche, o niilismo moderno assenta-se, em grande parte, na ideia da morte de Deus. Em sua obra Gaia ciência, o filósofo decreta: “Deus está morto”. Mas esclarece que quem o matou fomos nós mesmos, ou seja, trata-se de um acontecimento histórico-cultural, no qual destruímos os fundamentos transcendentais (assentados na ideia de Deus) dos valores mais caros de nossas vidas.

[...] Por essa ótica, niilismo seria o sentimento coletivo de que nossos sistemas tradicionais de valoração, tanto no plano do conhecimento quanto no ético-religioso, ou sociopolítico, ficaram sem consistência e já não podem mais atuar como instâncias doadoras de sentido e fundamento para o conhecimento e a ação (Giacoia Jr., Nietzsche, p. 65)

Para combater o niilismo, Nietzsche defendeu valores afirmativos da vida, capazes de expandir as energias latentes em nós. “Ouse conquistar a si mesmo” talvez seja a grande indicação nietzschiana àqueles que buscam viver de forma afirmativa, sem conformismo, resignação ou submissão.



VÍDEO5: AS DIFICULDADES
Fonte Bibliográfica:

COTRIM, Gilberto, Mirna Fernandes. Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia, volume único/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. 6. Ed. São Paulo: Moderna, 2016.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia: ensino médio, volume único, 4. ed. São Paulo: Ática, 2011

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