Col. Est. Dep. Manoel
Mendonça
Prof.: Cássio
Vladimir de Araújo
Série: 2° Ano
Disciplina: Filosofia - 2019
FRIEDRICH
NIETZSCHE
·
Uma filosofia “a golpe de martelo”
Nietzsche realizou uma crítica
radical e impiedosa da tradição filosófica e dos valores fundamentais da
civilização ocidental, construindo um pensamento diferente e original, uma
filosofia a golpes de martelo”, como ele mesmo a definiu. Junto com Marx e
Freud, foi classificado como um dos três mestres da suspeita pelo filósofo
francês Paul Ricoeur. Pela influência que teve sobre os pensadores das
filosofias da existência, é considerado um pré-existencialista por vários
historiadores da filosofia.
Nascido em Röcken, perto de Leipzig, na
Alemanha, Nietzsche (1844-1900) era filho e neto de pastores protestantes. Em
1858, conseguiu uma bolsa de estudos na escola de Pforta, a mesma onde havia
estudado Fichte.
Na juventude, foi bastante influenciado
pelo Romantismo, tornando-se admirador de Schiller, que mais tarde iria
criticar. Na adolescência estudou a Bíblia e os autores clássicos da cultura
grega. Em Bonn, já afastado do cristianismo por influência das leituras e de
alguns professores, estudou filosofia e teologia, passando por um curto período
de intensa boemia. Em 1869, tornou-se professor de filologia grega na
Universidade da Basileia na Suíça.
Nietzsche foi um grande admirador do
músico Rlichard Wagner e apaixonado por sua obra, mas acabou se indispondo com
o compositor, a ponto de lhe tecer duras críticas.
Com saúde precária, em 1879 deixou de
dar aulas. De 1883 a 1885, escreve sua principal obra, “Assim falou
Zaratustra”, na qual expõe as ideias do eterno retorno e da derrota da moral
cristã pelo além-do-homem (da expressão alemã Übermensch, “sobre-humano”, “que
transpõe os limites do humano”. Em algumas traduções, é usado o termo
“super-homem”)
·
Apolíneo e dionisíaco
Em sua obra, Nietzsche também criticou a
tradição da filosofia ocidental a partir de Sócrates, a quem acusa de ter
negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática.
Nessa análise, o filósofo alemão
estabelece a distinção entre dois princípios: o apolíneo e o dionisíaco, a
partir dos deuses gregos Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio
(deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem), respectivamente.
Para Nietzsche, esses dois princípios ou
dimensões complementares da realidade- o apolíneo e o dionisíaco – foram
separados na Grécia socrática, que, optando pelo culto à razão, secou a seiva
criadora da filosofia, contida na dimensão dionisíaca. Para o filósofo, o mundo seria o
reino das misturas, das turbulências, das complexidades, razão pela qual se
opôs às cisões separadoras entre alto e baixo, superior e inferior, ideal e
real, sensível e inteligível, como ocorreu a partir do período clássico do
pensamento grego antigo.
·
A transvaloração dos valores e a
genealogia da moral
Nietzsche desenvolveu uma crítica
intensa dos valores morais, propondo uma nova abordagem: a genealogia da moral,
isto é, o estudo da formação histórica dos valores morais. Sua conclusão foi
de que o bem e o mal não constituem noções absolutas, no entendimento de que as
concepções morais são elaboradas pelos seres humanos a partir dos interesses
humanos. Ou seja, são produtos histórico-culturais.
Ao fazer a crítica da moral tradicional,
Nietzsche preconiza a “transvaloração de todos os valores”. Diz a filósofa
Scarlett Marton
“A noção nietzschiana do valor opera uma
subversão crítica: ela põe de imediato a questão do valor dos valores e
esta, ao ser colocada, levanta a pergunta pela criação dos valores. Se até
agora não se pôs em causa o valor dos valores “bem e mal”, é porque se supôs
que existiram desde sempre; instituídos num além, encontravam legitimidade num
mundo suprassensível. No entanto, uma vez questionados, revelam-se apenas
“humanos, demasiado humanos”; em algum momento e em algum lugar, simplesmente
foram criados.
MARTON, Scarlett. Nietzsche: a
transvaloração dos valores. São Paulo: Moderna, 1993. P. 50. (Coleção Logos).
Apesar de sua origem humana, essas
concepções são impostas pelas religiões – o judaísmo e o cristianismo – como se
fossem produtos da “vontade de Deus” e, portanto, valores absolutos. E estes
valores carregaram as pessoas com as noções e os sentimentos de dever, culpa,
dívida e pecado. O resultado foi a configuração de indivíduos medíocres,
tímidos, insossos, não criativos, depauperados e submissos.
Por isso, Nietzche denunciou a
existência de uma “moral de rebanho” na civilização cristã e burguesa, pois
essa moral estaria baseada na submissão irrefletida e acomodada de grande parte
das pessoas aos valores dominantes.
Portanto, para o filósofo, se cada
pessoa compreender que os valores presentes em sua vida são construções
humanas, estará no dever de refletir sobre suas concepções morais e questionar
o valor de seus valores, enfrentando o desafio de viver por sua própria conta e
risco.
·
Genealogia da moral
Considerando que os valores não
existiram desde sempre, mas foram criados, Nietzche propõe a genealogia como
método de investigação sobre a origem deles. Mostra como forma criadas lacunas
– o que não foi dito ou foi recalcado -, permitindo que alguns valores
predominassem sobre outros, até se tornarem, aos poucos, conceitos abstratos e
inquestionáveis.
Pela genealogia, Nietzhe descobre que
os instintos vitais foram submetidos e degeneraram. Denuncia a falsa moral,
“decadente”, “de rebanho”, “de escravos”, cujos valores seriam a bondade, a
humildade, a piedade e o amor ao próximo. E, desse modo, ressalta os
valores comprometidos com o “querer-viver”. Distingue então a moral dos
escravos e a moral de senhores.
a)
Moral
de escravos
Herdeira do pensamento
socrático-platônico e da tradição judaico-cristã, a moral de escravos consiste
na tentativa de subjugação dos instintos pela razão. O homem-fera, anima de
rapina, é transformado em animal doméstico ou cordeiro. A moral plebeia estabelece um sistema
de juízos em que o bem e o mal são valores metafísicos transcendentes, isto é,
independentes da situação concreta vivida.
A moral de escravos nega os valores
vitais e resulta na passividade, na procura da paz e do repouso. O indivíduo se
enfraquece e sua potência diminui. A conduta humana, orienta pelo ideal ascético, torna-se
vítima do ressentimento e da má consciência – o sentimento de culpa.
Ao criar a noção de pecado, o sentimento
de culpa torna-se um ressentimento voltado contra si mesmo e inibidor da ação.
O ideal ascético nega a alegria da vida e faz da mortificação o meio para
alcançar a outra vida num mundo superior, do além. As práticas de altruísmo
destroem o amor de si, domesticando os instintos.
b)
Moral
de senhores
A moral que visa à conservação da
vida e dos seus instintos fundamentais é positiva porque se baseia no sim à
vida e configura-se sob o signo da plenitude, do acréscimo. Ela se funda na
capacidade de criação, de invenção, cujo resultado é a alegria, consequência da
afirmação da potência. O indivíduo que consegue se superar é o que atingiu o
além-do-homem. É aquele que reavalia os valores, para desprezar os que o
diminuem e criar outros que tenham compromisso com a vida.
Além-do-homem: da expressão alemã
Übermensch, “sobre-humano”, “que transpõe os limites do humano”. Em algumas
traduções, é usado o termo “super-homem”.
·
Vontade de potência
Há quem pense que Nietzsche chega ao
extremo individualismo e amoralismo. Muitos até o chamaram de niilista,
(Niilismo. Do latim nihil, “nada”) para acusa-lo de negar os valores, o que não
faz jus ao seu pensamento. Ao contrário, filósofo atribuía o niilismo à moral
decadente dos valores tradicionais, que acomodaram o ser humano na mediocridade
uniformizadora. Destruir esses valores é condição para que possam nascer os
valores novos do além-do-homem, o que só é alcançado pela vontade de poder
(vontade de potência). Também essa expressão pode levar a confusões: não se
trata do poder que domina os outros, mas de forças vitais entorpecidas e
recuperadas pelo indivíduo dentro de si “num dionisíaco dizer-sim ao mundo”.
O poder é virtude no sentido de força,
vigor, capacidade.
Portanto, virtude é autorrealização. Se essa moral valoriza a individualidade,
o faz tanto pra quem a detém como para os outros, pois permite a cada um ser
ele mesmo.
·
Niilismo
Segundo a análise de Nietzsche, no
momento em que o cristianismo deixou de ser a “única verdade” para se tornar
uma das interpretações possíveis do mundo (o que se deu a partir da idade
moderna), toda a civilização ocidental e seus valores absolutos também foram
postos em xeque. Nesse contexto, ocorreu uma escalada ao niilismo, que “deve
ser entendido como um sentimento opressivo e difuso, próprio às fases agudas de
ocaso de uma cultura. O niilismo seria a expressão afetiva e intelectual da
decadência” (Giacoia J., Nietzsche, p. 64-65).
De acordo com Nietzsche, o niilismo
moderno assenta-se, em grande parte, na ideia da morte de Deus. Em sua
obra Gaia ciência, o filósofo decreta: “Deus está morto”. Mas esclarece que
quem o matou fomos nós mesmos, ou seja, trata-se de um acontecimento histórico-cultural,
no qual destruímos os fundamentos transcendentais (assentados na ideia de Deus)
dos valores mais caros de nossas vidas.
[...] Por essa ótica, niilismo seria
o sentimento coletivo de que nossos sistemas tradicionais de valoração, tanto
no plano do conhecimento quanto no ético-religioso, ou sociopolítico, ficaram
sem consistência e já não podem mais atuar como instâncias doadoras de sentido
e fundamento para o conhecimento e a ação (Giacoia Jr., Nietzsche, p. 65)
Para combater o niilismo, Nietzsche
defendeu valores afirmativos da vida, capazes de expandir as energias latentes
em nós. “Ouse conquistar a si mesmo” talvez seja a grande indicação
nietzschiana àqueles que buscam viver de forma afirmativa, sem conformismo,
resignação ou submissão.
VÍDEO2: NIETZSCHE E FREUD
VÍDEO5: AS DIFICULDADES
Fonte Bibliográfica:
COTRIM, Gilberto, Mirna Fernandes. Fundamentos de
filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à
filosofia, volume único/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires
Martins. 6. Ed. São Paulo: Moderna, 2016.
CHALITA,
Gabriel. Vivendo a Filosofia: ensino médio, volume único, 4. ed. São Paulo:
Ática, 2011
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