Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 2°
Ano
Disciplina: Sociologia – 2017
DESIGUALDADES SOCIAIS
· Desigualdades de gênero
e de raça no Brasil
No
conjunto de ideias e conceitos com base em crenças e tradições compartilhadas
que denominamos imaginário coletivo, há um modelo de indivíduo e de sociedade
no qual as diferenças culturais e biológicas têm função hierarquizadora em
espaços distintos da vida social. É assim,
por exemplo, que a mulher é percebida como “naturalmente inferior” ao homem.
Essa concepção, base da discriminação presente nas relações de gênero, coloca a
mulher em desvantagem nas diversas maneiras de relação social. A desvantagem se
intensifica se associada a outro modo de desigualdade, como classe ou raça. No
mundo do trabalho, por exemplo, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego
(PME) realizada pelo IBGE, em 2011 as mulheres ganharam, em média, até 28%
menos do que os homens para desempenhar as mesmas funções.
Apesar de
a legislação determinar que não haja diferenças salariais entre os sexos, tanto
na Constituição quanto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pesquisas
(como as da empresa Catho, Líder em recrutamento on-line) demonstram que de
2002 para cá, em algumas regiões metropolitanas brasileiras, as mulheres
aumentaras sua participação no mercado de trabalho (na liderança das empresas, por exemplo, o crescimento foi
de cerca de 109%) e melhoraram o grau de instrução em relação aos homens, mas
continuam recebendo menos do que eles. Quando se trata de mulheres negras, tal
diferença supera os 170%,
Essa
relação desigual aparece também fora do mundo do trabalho. Boa parte das
mulheres exercem dupla jornada, no emprego e em casa. E, ainda que tenham
ocorrido avanços nessa relação, os casos de exploração, violência e
discriminação são comuns.
Outra
manifestação recorrente de desigualdade social no Brasil é aquela sofrida por
negros, indígenas e seus descendentes desde o período colonial. O fim da escravidão não significou para os negros sua
inserção em condições de igualdade na sociedade brasileira. Para o sociólogo
paulista Octavio Ianni, o que ocorreu foi a transformação do negro de escravo
em mão de obra livre e subalterna. O processo de privação material e de
dominação ideológica empreendido desde então exemplifica o tratamento desigual
dispensado aos negros na sociedade brasileira.
Do ponto
de vista material, todas as pesquisas demonstram um tratamento diferenciado
entre brancos e negros. Por exemplo, a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE de
2013, realizada em algumas regiões metropolitanas brasileiras, constatou que um
trabalhador negro ganha em média 57,4% do que recebe um trabalhador branco.
Outro
aspecto da desigualdade sofrida pela população negra são os casos de
discriminação e violência dos quais são vítimas.... Os jovens negros constituem
a maioria das vítimas de homicídio. Entre 2002 e 2012, enquanto a taxa de
brancos assassinados cais de 19.946 em 2002 para 14.928, o número de negros
mortos subir de 29.656 para 41.127 no mesmo período.... Uma pesquisa da
Universidade de São Carlos divulgada em 2014 demonstrou que 58% das mortes
provocadas por policiais no estado de São Paulo têm como alvo a população negra,
que por sua vez, corresponde a apenas 34% da população do estado.
No que se
refere à juventude negra, outro dado importante são as diferenças no acesso à
educação. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de
2011, ... demonstram que os jovens negros entre 18 e 24 anos possuem inserção
escolar desigual em relação à população branca. Isso se explica pelas
dificuldades encontradas pela população negra de entrar e permanecer na escola.
Ainda que se tenha observado melhora nos índices relacionados à juventude
negra, quando comparados com os da juventude branca, verifica-se que eles são
muito inferiores. Essa inserção desigual tem consequências, por exemplo, no
mercado de trabalho.
Assim
como a população negra, os povos indígenas vivem em um contexto de profunda
discriminação e desigualdade. Pelo censo do IBGE de
2010, foram contabilizados pouco mais dde 896 mil indígenas, que, em sua
maioria, vivem em condições de pobreza e sujeitos a diferentes tipos de
violência. Segundo S. James Anaya, conhecido por sua atuação como relator
especial da ONU para Situação dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais
dos Povos Indígenas, eles sofrem com a negação efetiva de seus direitos de
autodeterminação (capacidade de um povo de organizar-se e dirigir-se
politicamente por si mesmo, soberanamente, com eleições livres para escolha de
seus governantes) e das condições materiais para que possam desenvolver-se
economicamente. Além disso, são vítimas constantes da violência praticada por
grupos que se interessam por suas terras.
Um
exemplo desse tratamento desigual poder ser encontrado no constante desrespeito
às tradições dos povos e nações indígenas. Projetos governamentais, como a
construção de barragens em terras ocupadas por essas populações, desconsideram
os efeitos da inundação dessas áreas para a cultura e a sobrevivência autônoma
dos indígenas. ”
SILVA,
Afrânio; ... [et al.] Sociologia em movimento: ensino médio; volume único. 2.
ed. São Paulo: Moderna, 2016.
· Desigualdade na
distribuição da riqueza
“A
desigualdade na distribuição da renda – contraste entre ricos e pobres – é a
mais evidente expressão da injustiça social, pois priva os mais vulneráveis do
direito à vida (a baixa renda pode ocasionar fome e subnutrição), o direito de
abrigar-se (é o caso dos sem-teto, dos moradores de ruas ou dos sem-terra) e
até mesmo do direito à liberdade e ao trabalho digno, indivíduos ou grupos
podem apresentar condições desiguais ainda que tenham tidos as mesmas
oportunidades e se encontrem em posições semelhantes.”
Tempos
modernos, tempos de sociologia: ensino médio: volume único / Helena Bomeny...
[et al.] (coordenação). – 2. ed. – São Paulo: Editora do Brasil. 2013.
“A
análise dos fenômenos das classes sociais e da dominação social coloca-nos
diante da presença de ricos e pobres em nossa sociedade. O Brasil é um dos
países com maior concentração de renda no mundo, pois há uma substancial
diferença de valores entre os rendimentos e as posses dos mais ricos e dos mais
pobres. É perversa e injusta a distribuição de renda e de oportunidades sociais
no país....
O
problema da distribuição das riquezas no Brasil é histórico-estrutural e
decorre de fatores como a herança do sistema escravista e a falta de reformas
sociais, econômicas e políticas. A exclusão histórica, ainda hoje, afeta
parcelas significativas da população empobrecida, compostas de famílias
numerosas que vivem o drama da fome e do analfabetismo. ”
ARAÚJO,
Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi Sociologia:
volume único: ensino médio, 2. ed. São Paulo: Scipione, 2016.
“Apesar
de algumas avaliações otimistas e da melhora em certos índices, dados do último
censo Demográfico, em 2010, mostram que a desigualdade de renda ainda é
bastante acentuada no Brasil. De acordo com o economista Marcelo Neri, a baixa
escolaridade da população brasileira mantém o país entre as dez nações mais
desiguais do mundo.
O Índice
de Gini (ou Coeficiente de Gini), um importante indicador social, é a
ferramenta estatística mais utilizada para estudar desigualdade de renda. O
Gini é uma medida, e seu valor varia de 0 a 1. O valor 0 (zero) indica que cada
unidade familiar de um país ganha exatamente a mesma quantidade de dinheiro – é
a completa igualdade de renda. No polo oposto, o índice com valor igual a 1 indica
que uma só família ganha a renda nacional inteira – completa desigualdade de
renda. Esses são extremos teóricos na realidade, a maioria dos países tem
índice de Gini entre 0,2 e 0,5. O do Brasil era de 0,527 em 2011, segundo o
Ipea, o que o colocava entre os 12 países mais desiguais do mundo.
· Desigualdade de
oportunidades
“Hoje,
apesar do contexto de consolidação da democracia, é possível constatar que a
desigualdade socioeconômica brasileira está muito relacionada à desigualdade de
oportunidades e de condições. Ou seja, existem diferenças nas circunstâncias
que afetam o sucesso das pessoas e que não dependem de seus esforços nem de
suas decisões pessoais. Essas circunstâncias incluem o grau de escolaridade e a
ocupação dos pais, a qualidade da escola que o indivíduo frequenta, seus
ambientes de socialização, além de outros elementos, com cor da pele....
Atualmente
em boa parte dos países vigora o pressuposto de igualdade de oportunidades, ou
seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei,
vetando-se diferenciações arbitrárias e discriminações – como consta do art. 5°
da Constituição Federal de 1988, que afirma serem “todos iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza [...]”. Esse pressuposto consagra o
princípio da igualdade de oportunidades.
Entretanto,
essa proposição de igualdade esbarra na imensa desigualdade de condições, por
exemplo, na hora de iniciar e continuar os estudos ou de garantir uma
alimentação adequada. Esses são dois elementos, entre outros, que demonstram o
impacto representado pelas desigualdades sociais sobre a geração de
possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
Claro
está, portanto, que há um grande desafio quando se fala em reduzir a distância
entre a igualdade formal de oportunidades e a desigualdade real de condições.
Em linhas gerais, esse desafio seria o aprimoramento das políticas e dos
programas sociais destinados a redistribuir renda, fundados em regras de
funcionamento claras e abrangentes, e que, sobretudo, sejam políticas de
Estado, e não de governo, ou seja, que tenham continuidade, independentemente
de quem ocupe o Poder Executivo. Por outro lado, há urgência na ampliação das
oportunidades para que os jovens possam encontrar maneiras reais de mobilidade
social, o que significa melhores condições de acesso à educação, à saúde, ao
mercado de trabalho e uma redução da violência da qual são vítimas,
principalmente aqueles que representam as minorias sociais discriminadas como
mulheres, negros e indígenas.
· Desigualdade digital
Um olhar
sobre o mundo atual permite perceber um novo tipo de desigualdade: a digital. A
revolução digital trouxe para o cotidiano a presença impositiva de novas
tecnologias. Celulares, computadores pessoais, internet e redes sociais são
algumas das muitas maneiras de utilizar a tecnologia como ferramenta de estudo
e de trabalho e, principalmente, como meio de comunicação.
Entretanto,
o acesso ao mundo digital não é igualitário. As diferenças econômicas,
geralmente acompanhadas de desigualdade de escolaridade, fazem com que alguns
se tornem consumidores de toda e qualquer tecnologia disponível, enquanto
muitos outros continuam dependendo das iniciativas de governos ou de
Organizações não governamentais (ONGs), ou, ainda, de locais que disponibilizam
o acesso à internet mediante pagamento por hora para conseguir utilizar essas
tecnologias. A diferença de escolaridade também contribui para a desigualdade
digital, pois pessoas com dificuldade de leitura e escrita podem ter mais
dificuldade de se apropriar dos novos recursos tecnológicos.
Ao mesmo
tempo, a desigualdade digital acaba reforçando outras formas de desigualdade,
pois o domínio da tecnologia facilita o acesso a bons empregos. ”
SILVA, Afrânio; ... [et al.] Sociologia em movimento:
ensino médio; volume único. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2016
Fonte Bibliográfica:
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM,
Benilde Lenzi Sociologia: volume único: ensino médio, 2. ed. São Paulo:
Scipione, 2016.
Tempos modernos, tempos de sociologia: ensino médio: volume
único / Helena Bomeny... [et al.] (coordenação). – 2. ed. – São Paulo: Editora
do Brasil. 2013.
SILVA, Afrânio; ... [et al.] Sociologia em movimento:
ensino médio; volume único. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2016.
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