quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O TRABALHO - SOCIOLOGIA - 3º ANO

Prof.: Cássio Vladimir de Araújo 
Série:    3° Ano 
Disciplina:   Sociologia - 2017

O TRABALHO

  • O significado do trabalho ao longo da História
Em sociedades como as da Grécia antiga, a asteca e a romana, o trabalho era considerado indigno, reservado a escravos ou a estratos sociais considerados inferiores. Na maioria das vezes, esse trabalho era braçal, implicava de grande esforço físico e causava cansaço extremo.
Durante a Idade Média a estratificação social na maior parte da Europa era estamental. Na sociedade hierarquizada em estamentos raramente havia mobilidade social. Os trabalhadores, chamados servos, ocupavam a posição mais baixa da estrutura social. A sua função era trabalhar para que a nobreza e o clero pudessem se dedicar a outras atividades, como as batalhas e os compromissos ligados à religião. Nas sociedades feudais europeias, as ferramentas e os recursos necessários para produzir qualquer coisa – depois chamados por Marx de meios de produção – encontravam-se concentrados nas mãos de alguns poucos homens da nobreza, que transmitiam esses bens por meio de herança aos filhos homens e/ou de dotes de casamento aos que desposassem suas filhas. A maioria da população trabalhava para esses proprietários, os senhores da terra, numa relação de subordinação.
Durante a constituição do sistema capitalista, nos períodos manufatureiro e de desenvolvimento da grande indústria, houve o processo de proletarização. Ou seja, aos poucos o trabalhador se viu destituído dos seus meios de produção, não tendo alternativas para manter-se e à sua família que não a submissão ao trabalho assalariado.
Durante a constituição do capitalismo industrial, no século XVIII, firmou-se o trabalho assalariado, reservado aos indivíduos que não dispunham de posses. Por isso, eles precisavam vender ou alugar sua força de trabalho – energia física e mental despendida para realizar atividades – em troca de uma remuneração que garantisse seu sustento. No entanto, o pagamento recebido pelo trabalhador não correspondia ao valor daquilo que ele produziu. Essa diferença, que é apropriada pelo detentor dos meios de produção, é denominada mais-valia por Marx.
Aos poucos, essa transformação envolveu toda a estrutura da sociedade, que, sendo capitalista, mercantiliza, ou seja, transforma em mercadoria muitas de suas relações sociais, incluindo as de trabalho. O capitalismo, como um sistema de organização da produção material que se baseia na propriedade privada, conjuga capital e trabalho. O capital é o conjunto dos bens e meios de produção (como máquinas, as ferramentas, os equipamentos, a terra, as instalações, o dinheiro, etc.) que são valorizados e multiplicados graças ao trabalho físico e/ou mental realizado por aqueles que apenas dispõem de sua força como moeda de troca. Por isso, dizemos que o trabalho incorpora valor aos bens, ou seja, por meio do trabalho o ser humano transforma a natureza e a si próprio.

  • O trabalho como uma atividade dignificante
A noção de que o trabalho é uma atividade dignificante foi construída historicamente. Na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, o sociólogo Max Weber (1864-1920) mostrou que, em países de maioria protestante, uma conduta alinhada a essa ética religiosa impulsionou o capitalismo. Segundo a ética católica, trabalhar ou sustentar-se com o trabalho dos outros, como faziam os monarcas e a nobreza europeia, era indiferente à salvação da alma após a morte. A salvação poderia ser conquistada por meio do arrependimento dos pecados e da penitência, além da caridade e de outras ações vistas como boas.
Já os principais líderes da Reforma protestante não acreditavam que isso podia garantir a salvação da alma – para eles, a alma já estaria predestinada a ser salva ou não. Porém, algumas correntes pregavam que era possível ter um sinal dessa predestinação, que seria a dedicação obstinada ao trabalho. Assim, a riqueza conquistada por meio do trabalho e reinvestida em mais trabalho não poderia ser condenada, pois seria um indício da salvação. Essa mudança de valores convergiu com a luta da burguesia para se firmar na sociedade, o que favoreceu a aceitação da ascensão social pelo trabalho e pelo acúmulo de capital. Essa ideologia do trabalho contribuiu e ainda contribui para que os detentores do capital ganhem e mantenham privilégios sociais.

  • A sociedade moderna como sociedade do trabalho, pelo e para o trabalho.
Alguns cientistas sociais e outros estudiosos do tema discutem atualmente se a verdadeira emancipação dos indivíduos não estaria mais ligada ao ócio, ao lazer e ao tempo livre do que a um domínio maior do próprio trabalho (“desalienação”) e à realização social pelo trabalho. No livro “O direito à preguiça (1983), o francês Paul Lafargue (1842-1911), que curiosamente era genro de Marx, criticou justamente o que chamava de “culto ao trabalho” por parte dos trabalhadores e de alguns filósofos socialistas, como seu sogro.
Quase um século mais tarde, o antropólogo político francês Pierre Clastres (1934-1977) publicou a famosa obra “A Sociedade contra o Estado”. Analisando sociedades de pequeno porte, como as indígenas da bacia do rio Paraná, ele recusa a ideia de que seja “natural” e se aplique à humanidade como um todo o caminho tomado pelas sociedades europeias de concentrar bens, propriedades privadas e poder econômico e político. Clastres ressalta que, em diversas sociedades estudadas por etnógrafos na Antropologia, o entendimento do “trabalho e da “produção” não passa pelo trabalho individual nem pelo trabalho por si mesmo. Nessas sociedades, trabalha-se coletivamente para suprir as necessidades do grupo e, tão logo a necessidade seja atendida, o trabalho cessa. Esse foi, segundo ele, um dos pontos de conflito entre sociedades indígenas e colonizadores europeus nos territórios que hoje chamamos América.

  • Fordismo e o Toyotismo
Entre os anos do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial e os anos 70) a organização do trabalho na fábrica estava baseada nas ideias de Henry Ford (1893-1947) e Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Ford era dono da fábrica norte-americana – Ford e, Taylor era um engenheiro que trabalhava na Fábrica Midvale Steel Company. Eles foram responsáveis, cada um a sua maneira, por estabelecerem medidas para um controle sobre os trabalhadores, no cotidiano da fábrica.
Fordismo – A compreensão de Henry Ford, conhecida como a proposta fordista, estava baseada na seguinte premissa: “(...) para um consumo em massa uma produção em massa (...)”. Para isso, a produção deveria ser organizada de maneira a impedir desperdício de tempo do operário na execução das tarefas. Para que isso ocorra o trabalho deveria ser partido em várias funções e o trabalhador executaria somente uma função. Para que haja continuidade entre estas tarefas parceladas, criou-se uma esteira rolante, na qual os objetos vão sendo produzidos na medida em que os trabalhadores executam a sua função um ao lado do outro. Para que não ocorressem interrupções nesta “linha de montagem”, Ford propôs a padronização das peças.
Taylorismo – Já as ideias de Frederick Taylor, conhecida como a proposta taylorista, estavam baseadas nas seguintes questões, em que deveria haver:
Ø  A separação entre quem planeja a atividade e produção de um objeto e quem de fato vai executá-la;
Ø  Um processo de seleção de operários que sejam adequados para o trabalho, sem que tenham um perfil rebelde, capaz de questionar as regras na seleção dos trabalhadores;
Ø  Um controle sobre o tempo e sobre o movimento que o trabalhador leva para executar uma atividade. Esse controle deveria ser realizado pela chefia utilizando um cronômetro, medindo a ação deste operário.
Essas ideias já estavam sendo aplicadas na Ford, no início do século XX. Mas é somente com o pós-guerra que há uma disseminação desse sistema pelo mundo, atingindo até as fábricas rivais da Ford como a General Motors e a Chrysler.
Os anos 70 foram marcados pela crise do petróleo (1973) o que impulsionou a crise de superprodução e uma mudança na forma de organização da produção e na intensificação do processo de globalização da economia. As mudanças na forma de organização da produção significaram um reordenamento das funções cotidianas nas fábricas e a utilização de novas tecnologias – acelerando a utilização da robótica na linha de montagem. A indústria automobilística foi a primeira a passar por essas mudanças.
Veja que na organização fordista a produção ocorreu primeiro nas fábricas de automóveis e depois se dissemina pela sociedade; isso ocorre pelo complexo industrial e de serviços que estão ao longo da cadeia produtiva da indústria automobilística que é muito extenso e atinge a produção industrial como um todo. A produção do aço, do vidro, das borrachas e outras fibras, tintas, estofamento, peças e acessórios, propaganda, financiamentos, pontos de venda e revenda, postos de combustíveis enfim, uma amplitude que atinge todas as esferas da economia da sociedade.

  • Toyotismo
Essas mudanças possibilitaram que uma outra forma de organização da produção, mais enxuta, que produzia de acordo com a demanda do mercado, passasse a ser utilizada como uma das saídas para resolver a crise da sociedade na esfera produtiva. É o padrão toyotista que tem origem na fábrica Toyota nos anos 50, e se diferencia do Fordismo nos seguintes aspectos:
Fordismo – Em 1908, o americano Henry Ford iniciou a fabricação do modelo T em escala industrial. Era o começa da linha de produção.
Ø  Defeitos no produto só eram identificados no final da linha de produção
Ø  A empresa fabricava muitas das peças que compunham o seu produto
Ø  Para não faltar peças, estas eram produzidas em excesso, gerando estoques
Ø  O operário-modelo era aquele que melhor obedecia às diretrizes de seus superiores
Ø  O funcionário devia se preocupar apenas com as tarefas imediatas
Ø  A empresa devia executar os projetos feitos pelos seus engenheiros.
Toyotismo – Indústrias de diversos setores adotaram o sistema Toyota de produção para ganhar eficiência.
Ø  Os operários interrompem a produção a qualquer momento para consertar falhas
Ø  A maioria das peças é feita por outras companhias os fornecedores
Ø  O estoque é mínimo. Os fornecedores entregam as peças quando a companhia solicita
Ø  O operário-modelo é aquele que identifica problemas e propõe soluções
Ø  O funcionário deve se preocupar com a aplicação que o produto terá depois de vendido
Ø  A empresa deve planejar a produção de modo a atender aos desejos de seus clientes.
Mas, fundamentalmente, o Toyotismo permite que a fábrica funcione com um número menor de funcionários ao ser comparada com o fordismo, já que é possível que um operário realize mais de uma função. Na Toyota, por exemplo, um operário pode operar mais de cinco máquinas e ao atuar em conjunto com os outros operários, funções que antes eram de chefia – cronometrista e inspetor de qualidade, por exemplo, passa a realizar junto com os outros operários, as funções que eram da chefia. Isso diminui as funções, possibilitando um “enxugamento” do processo produtivo.
Fonte Bibliográfica

PENA, Marcelo, Pré-Universitário: filosofia & Sociologia, anual, volume único – Fortaleza: FB Editora, 2014.

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