Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 3° Ano
Disciplina: Sociologia
- 2017
O
TRABALHO
- O significado do
trabalho ao longo da História
Em
sociedades como as da Grécia antiga, a asteca e a romana, o trabalho era
considerado indigno, reservado a escravos ou a estratos sociais considerados
inferiores. Na maioria das vezes, esse trabalho era braçal, implicava de grande
esforço físico e causava cansaço extremo.
Durante
a Idade Média a estratificação social na maior parte
da Europa era estamental. Na sociedade hierarquizada em estamentos raramente
havia mobilidade social. Os trabalhadores, chamados servos, ocupavam a posição
mais baixa da estrutura social. A sua função era trabalhar para que a nobreza e
o clero pudessem se dedicar a outras atividades, como as batalhas e os
compromissos ligados à religião. Nas sociedades feudais europeias, as
ferramentas e os recursos necessários para produzir qualquer coisa – depois
chamados por Marx de meios de produção – encontravam-se concentrados nas mãos
de alguns poucos homens da nobreza, que transmitiam esses bens por meio de
herança aos filhos homens e/ou de dotes de casamento aos que desposassem suas
filhas. A maioria da população trabalhava para esses proprietários, os senhores
da terra, numa relação de subordinação.
Durante
a constituição do sistema capitalista,
nos períodos manufatureiro e de desenvolvimento da grande indústria, houve o
processo de proletarização. Ou seja, aos poucos o trabalhador se viu destituído
dos seus meios de produção, não tendo alternativas para manter-se e à sua
família que não a submissão ao trabalho assalariado.
Durante
a constituição do capitalismo industrial,
no século XVIII, firmou-se o trabalho assalariado, reservado aos indivíduos que
não dispunham de posses. Por isso, eles precisavam vender ou alugar sua força
de trabalho – energia física e mental despendida para realizar atividades –
em troca de uma remuneração que garantisse seu sustento. No entanto, o
pagamento recebido pelo trabalhador não correspondia ao valor daquilo que ele
produziu. Essa diferença, que é apropriada pelo detentor dos meios de produção,
é denominada mais-valia por Marx.
Aos
poucos, essa transformação envolveu toda a estrutura da sociedade, que, sendo
capitalista, mercantiliza, ou seja, transforma em mercadoria muitas de suas
relações sociais, incluindo as de trabalho. O capitalismo, como um sistema
de organização da produção material que se baseia na propriedade privada,
conjuga capital e trabalho. O capital é o conjunto dos bens e meios de
produção (como máquinas, as ferramentas, os equipamentos, a terra, as
instalações, o dinheiro, etc.) que são valorizados e multiplicados graças ao
trabalho físico e/ou mental realizado por aqueles que apenas dispõem de sua
força como moeda de troca. Por isso, dizemos que o trabalho incorpora valor aos
bens, ou seja, por meio do trabalho o ser humano transforma a natureza e a si
próprio.
- O trabalho como
uma atividade dignificante
A
noção de que o trabalho é uma atividade dignificante foi construída
historicamente. Na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, o
sociólogo Max Weber (1864-1920) mostrou que, em países de maioria protestante,
uma conduta alinhada a essa ética religiosa impulsionou o capitalismo. Segundo
a ética católica, trabalhar ou sustentar-se com o trabalho dos outros, como
faziam os monarcas e a nobreza europeia, era indiferente à salvação da alma
após a morte. A salvação poderia ser conquistada por meio do arrependimento dos
pecados e da penitência, além da caridade e de outras ações vistas como boas.
Já
os principais líderes da Reforma protestante não acreditavam que isso podia
garantir a salvação da alma – para eles, a alma já estaria predestinada a ser
salva ou não. Porém, algumas correntes pregavam que era possível ter um sinal
dessa predestinação, que seria a dedicação obstinada ao trabalho. Assim, a
riqueza conquistada por meio do trabalho e reinvestida em mais trabalho não
poderia ser condenada, pois seria um indício da salvação. Essa mudança de
valores convergiu com a luta da burguesia para se firmar na sociedade, o que
favoreceu a aceitação da ascensão social pelo trabalho e pelo acúmulo de
capital. Essa ideologia do trabalho contribuiu e ainda contribui para que os
detentores do capital ganhem e mantenham privilégios sociais.
- A sociedade
moderna como sociedade do trabalho, pelo e para o trabalho.
Alguns
cientistas sociais e outros estudiosos do tema discutem atualmente se a
verdadeira emancipação dos indivíduos não estaria mais ligada ao ócio, ao lazer
e ao tempo livre do que a um domínio maior do próprio trabalho (“desalienação”)
e à realização social pelo trabalho. No livro “O direito à preguiça (1983), o
francês Paul Lafargue (1842-1911), que curiosamente era genro de Marx, criticou
justamente o que chamava de “culto ao trabalho” por parte dos trabalhadores e
de alguns filósofos socialistas, como seu sogro.
Quase
um século mais tarde, o antropólogo político francês Pierre Clastres
(1934-1977) publicou a famosa obra “A Sociedade contra o Estado”. Analisando
sociedades de pequeno porte, como as indígenas da bacia do rio Paraná, ele
recusa a ideia de que seja “natural” e se aplique à humanidade como um todo o
caminho tomado pelas sociedades europeias de concentrar bens, propriedades
privadas e poder econômico e político. Clastres ressalta que, em diversas
sociedades estudadas por etnógrafos na Antropologia, o entendimento do
“trabalho e da “produção” não passa pelo trabalho individual nem pelo trabalho
por si mesmo. Nessas sociedades, trabalha-se coletivamente para suprir as
necessidades do grupo e, tão logo a necessidade seja atendida, o trabalho
cessa. Esse foi, segundo ele, um dos pontos de conflito entre sociedades
indígenas e colonizadores europeus nos territórios que hoje chamamos América.
- Fordismo e o
Toyotismo
Entre
os anos do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial e os anos 70) a organização do
trabalho na fábrica estava baseada nas ideias de Henry Ford (1893-1947) e
Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Ford era dono da fábrica norte-americana
– Ford e, Taylor era um engenheiro que trabalhava na Fábrica Midvale Steel
Company. Eles foram responsáveis, cada um a sua maneira, por estabelecerem
medidas para um controle sobre os trabalhadores, no cotidiano da fábrica.
Fordismo
– A compreensão de Henry Ford, conhecida como a proposta fordista, estava
baseada na seguinte premissa: “(...) para um consumo em massa uma produção em
massa (...)”. Para isso, a produção deveria ser organizada de maneira a impedir
desperdício de tempo do operário na execução das tarefas. Para que isso ocorra
o trabalho deveria ser partido em várias funções e o trabalhador executaria
somente uma função. Para que haja continuidade entre estas tarefas parceladas,
criou-se uma esteira rolante, na qual os objetos vão sendo produzidos na medida
em que os trabalhadores executam a sua função um ao lado do outro. Para que não
ocorressem interrupções nesta “linha de montagem”, Ford propôs a padronização
das peças.
Taylorismo
– Já as ideias de Frederick Taylor, conhecida como a proposta taylorista,
estavam baseadas nas seguintes questões, em que deveria haver:
Ø A separação entre quem planeja a
atividade e produção de um objeto e quem de fato vai executá-la;
Ø Um processo de seleção de operários que
sejam adequados para o trabalho, sem que tenham um perfil rebelde, capaz de
questionar as regras na seleção dos trabalhadores;
Ø Um controle sobre o tempo e sobre o
movimento que o trabalhador leva para executar uma atividade. Esse controle
deveria ser realizado pela chefia utilizando um cronômetro, medindo a ação
deste operário.
Essas
ideias já estavam sendo aplicadas na Ford, no início do século XX. Mas é
somente com o pós-guerra que há uma disseminação desse sistema pelo mundo,
atingindo até as fábricas rivais da Ford como a General Motors e a Chrysler.
Os
anos 70 foram marcados pela crise do petróleo (1973) o que impulsionou a crise
de superprodução e uma mudança na forma de organização da produção e na
intensificação do processo de globalização da economia. As mudanças na forma de
organização da produção significaram um reordenamento das funções cotidianas
nas fábricas e a utilização de novas tecnologias – acelerando a utilização da
robótica na linha de montagem. A indústria automobilística foi a primeira a
passar por essas mudanças.
Veja
que na organização fordista a produção ocorreu primeiro nas fábricas de
automóveis e depois se dissemina pela sociedade; isso ocorre pelo complexo
industrial e de serviços que estão ao longo da cadeia produtiva da indústria
automobilística que é muito extenso e atinge a produção industrial como um
todo. A produção do aço, do vidro, das borrachas e outras fibras, tintas,
estofamento, peças e acessórios, propaganda, financiamentos, pontos de venda e
revenda, postos de combustíveis enfim, uma amplitude que atinge todas as
esferas da economia da sociedade.
- Toyotismo
Essas
mudanças possibilitaram que uma outra forma de organização da produção, mais
enxuta, que produzia de acordo com a demanda do mercado, passasse a ser
utilizada como uma das saídas para resolver a crise da sociedade na esfera
produtiva. É o padrão toyotista que tem origem na fábrica Toyota nos anos 50, e
se diferencia do Fordismo nos seguintes aspectos:
Fordismo
– Em 1908, o americano Henry Ford iniciou a fabricação do modelo T em escala
industrial. Era o começa da linha de produção.
Ø Defeitos no produto só eram
identificados no final da linha de produção
Ø A empresa fabricava muitas das peças que
compunham o seu produto
Ø Para não faltar peças, estas eram
produzidas em excesso, gerando estoques
Ø O operário-modelo era aquele que melhor
obedecia às diretrizes de seus superiores
Ø O funcionário devia se preocupar apenas
com as tarefas imediatas
Ø A empresa devia executar os projetos
feitos pelos seus engenheiros.
Toyotismo
– Indústrias de diversos setores adotaram o sistema Toyota de produção para
ganhar eficiência.
Ø Os operários interrompem a produção a
qualquer momento para consertar falhas
Ø A maioria das peças é feita por outras
companhias os fornecedores
Ø O estoque é mínimo. Os fornecedores
entregam as peças quando a companhia solicita
Ø O operário-modelo é aquele que identifica
problemas e propõe soluções
Ø O funcionário deve se preocupar com a
aplicação que o produto terá depois de vendido
Ø A empresa deve planejar a produção de
modo a atender aos desejos de seus clientes.
Mas,
fundamentalmente, o Toyotismo permite que a fábrica funcione com um número
menor de funcionários ao ser comparada com o fordismo, já que é possível que um
operário realize mais de uma função. Na Toyota, por exemplo, um operário pode
operar mais de cinco máquinas e ao atuar em conjunto com os outros operários,
funções que antes eram de chefia – cronometrista e inspetor de qualidade, por
exemplo, passa a realizar junto com os outros operários, as funções que eram da
chefia. Isso diminui as funções, possibilitando um “enxugamento” do processo
produtivo.
Fonte Bibliográfica
PENA, Marcelo, Pré-Universitário: filosofia &
Sociologia, anual, volume único – Fortaleza: FB Editora, 2014.
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