quarta-feira, 8 de novembro de 2017

TRABALHO E SOCIEDADE - SOCIOLOGIA - 3º ANO

Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo 
Série:    3° Ano 
Disciplina:   Sociologia - 2017
O TRABALHO E SOCIEDADE
  • O trabalho no século XX e seu lugar na vida em sociedade
No século XX, ocorreram muitas modificações no mundo do trabalho – designação ampla que engloba a organização do trabalho, as relações laborais, as inovações tecnológicas, o ambiente de trabalho, as organizações dos trabalhadores, entre outros. O significado do trabalho e o processo a ele relacionado alteraram-se consideravelmente, embora o trabalho continue sendo um dos pilares sobre o qual se sustenta a nossa sociedade, outros fatores têm contribuído para o desenvolvimento das relações sociais e para a manutenção e integração das pessoas, como o conhecimento, o lazer, etc.
Cabe uma indagação: qual é o sentido do trabalho? Será que o trabalho sempre teve o estatuto que tem hoje: o de ser um passaporte para a cidadania? Quais mudanças levaram o trabalho para essa condição?
As mudanças no mundo do trabalho e na economia mundial ocorridas nas últimas décadas do século XX levaram cientistas sociais europeus a questionar se o trabalho ainda detinha uma posição central na organização da sociedade. Para alguns, como o alemão Jürgen Habermas (1929-), conceitos como trabalho e capital perderam espaço, para outros como informação e conhecimento. Habermas considera que é o plano simbólico (propiciado pela comunicação) que organiza a vida social na contemporaneidade, enquanto o trabalho garantiria apenas a subsistência.
Essa posição foi rejeitada por autores como o sociólogo brasileiro Ricardo Antunes (1953-). Segundo Antunes, o trabalho ainda é essencial, pois continua sendo responsável pela produção tanto de riquezas (apropriadas pelos capitalistas) quanto de sentido simbólico (para os trabalhadores).
As transformações decorrentes das novas tecnologias também provocaram alguns pensadores a questionar o futuro do trabalho material. Os autores italianos Antonio Negri (1933-) e Maurizio Lazzarato (1955-) e o norte-americano Michael Hardt(1960-) acreditam que as características dos sistemas flexíveis de produção permitem a libertação do trabalho material. Para eles, nas formas flexíveis o trabalhador, sem a incumbência de tarefas mecânicas, poderia intervir diretamente no processo de trabalho e recuperar sua autonomia.
Vale destacar as duas principais críticas a essa visão. A primeira, feita por pensadores marxistas, é a de que o trabalhador flexível é mais explorado e gera mais valia maior para o capitalista. A segunda é a de que nem mesmo nos países do capitalismo central, como os Estados Unidos, o Japão e os da Europa Ocidental, o trabalho material está perto de desaparecer – setores como o da construção civil mostram isso.

  • Trabalho, emprego e desemprego
Os termos trabalho e emprego são usados, muitas vezes, como sinônimos, mas nem sempre isso é correto.
Emprego se refere ao vínculo de trabalho em qualquer tipo de atividade econômica. Designa o posto ocupado por um trabalhador que realiza atividade remunerada formal, regulamentada, e que pode ser assalariado, autônomo ou prestador de serviço. O conjunto de leis que regulamentou a formalização dos direitos do trabalhador no Brasil foi a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, instituída durante o governo Vargas em 1943 e hoje ainda vigente.
Trabalho é qualquer atividade que transforme a natureza ou produza bens e serviços, mediante o gasto de energia física e mental do trabalhador, independentemente da existência de contrato formal. O trabalho constitui uma relação social produtiva – o esforço do trabalhador no processo de trabalho faz com que este também se transforme. Com essa distinção entre trabalho e emprego, podemos interpretar que o emprego, mais estável e seguro, tende a decrescer em termos relativos (quando comparado ao crescimento do emprego precário e instável), mas o trabalho não corre o risco de desaparecer, já que se trata da condição para a reprodução da própria vida humana (individual e social), como argumentava Karl Marx.
Desemprego é a situação em que não existem vagas remuneradas suficientes para o total de trabalhadores disponíveis e que estão em busca de emprego. Em períodos de crise econômica, o decréscimo do emprego pode acontecer de forma rápida e atingir grandes dimensões, mesmo em países desenvolvidos, como aconteceu com muitos países europeus a partir de 2008.

  • Razões do desemprego
A persistência do desemprego é explicada pela introdução de inovações tecnológicas e organizacionais na produção e no ambiente de trabalho de todos os setores econômico-produtivos. Também as crises recorrentes no capitalismo, ou crises de acumulação, fazer crescer o desemprego, aumentam a exigência com relação à formação do trabalhador e levam à redução dos direitos trabalhistas. Nas situações de desemprego estrutural, o número de pessoas sem emprego mantém-se, no longo prazo, muito acima da quantidade de vagas disponíveis, o que tem acontecido também em países desenvolvidos em alguns períodos das últimas décadas.
Os sistemas flexíveis de produção, “envolvendo formas de contratação flexíveis (por tempo determinado, terceirizados, temporários, etc.)” onde os trabalhadores trabalham sob demanda, que se generalizaram após os anos 1970, diminuem a quantidade de contratados, concentram funções nas mãos de um mesmo trabalhador (multifuncionalidade) e barateiam o custo da força de trabalho.
Esse processo não se limita à esfera industrial e urbana. No campo, a mecanização agrária e o desenvolvimento de técnicas e insumos, visando aumentar a produtividade na agricultura e na pecuária, fizeram com que se produzisse mais com cada vez menos trabalhadores. O Brasil foi um dos países mais afetados por esse processo, por ser tradicional produtor e exportador de produtos agropecuários.
Enquanto os grandes proprietários de terras contratam menos trabalhadores porque investem em tecnologia e maquinário, os pequenos proprietários se veem sem condições de competir com os grandes produtores, pois não têm como financiar máquinas e insumos. Assim, nas últimas décadas, milhares de trabalhadores rurais e pequenos agricultores trocaram o meio rural pela busca do emprego nas médias e grandes cidades.

  • A pobreza, desemprego e os movimentos migratórios
A pobreza e o desemprego tornam os trabalhadores vulneráveis; com isso, encontram muita dificuldade para sustentar-se ou manter seu padrão de vida. Dependendo do nível de pobreza, muitos deles submetem-se ao trabalho forçado e submetem seus filhos ao trabalho infantil, por exemplo. À medida que o tempo passa, aqueles que não conseguem nova colocação no mercado de trabalho se sujeitam a recrutadores de mão de obra, que podem leva-los ao trabalho forçado. Outros decidem migrar em busca de trabalho (muitas vezes como imigrante ilegal) e são enredados pelo tráfico de pessoas. É importante registrar que as diferenças de desenvolvimento econômico entre os países têm aumentado as desigualdades sociais. Além disso, os conflitos étnico-raciais e políticos favorecem fluxos migratórios de populações inteiras (os refugiados) em busca de trabalho.

  • As mulheres e o trabalho
Ao longo da história, em geral as mulheres desempenharam uma função diferenciada em relação aos homens. As ocupações e tarefas atribuídas a elas são distintas em diferente épocas e sociedades, como nos mostram estudos da História e da Antropologia.
No século XVIII, o trabalho de mulheres e crianças era utilizado nas fábricas da Europa, assim como o dos homens, mas o valor da remuneração delas era inferior. Embora sempre tenham trabalhado, principalmente as mais pobres, foi apenas no século XX que as mulheres entraram maciçamente no mercado de trabalho, especialmente no período entre as duas guerras mundiais, para suprir a escassez de mão de obra, e após a década de 1970, com o crescimento da indústria e dos serviços e o surgimento de novas tecnologias.
Contribuíram também para essa inserção os movimentos feministas e a chamada liberação feminina, propiciada, entre outros fatores, pelo uso da pílula anticoncepcional, que permitiu o planejamento familiar. Dados do Banco Mundial mostraram que, em 2014, as mulheres já eram 39,6% da mão de obra no mundo e que essa proporção era maior nas famílias com rendas mais baixas, em razão da necessidade de melhorar suas condições de vida.
Além de desvantagem na remuneração, as mulheres geralmente enfrentam o problema da dupla (ou tripla) jornada, pois trabalham fora, trabalham em casa (cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos) e, muitas vezes, frequentam cursos com vistas a melhorar sua carreira e remuneração.
Algumas profissões são consideradas, pelo senso comum, “tipicamente” feministas: trabalhadoras domésticas, enfermeiras, costureiras, profissionais responsáveis pelo atendimento ao público, cuidadoras de crianças e idosos, por exemplo. No entanto, é preciso destacar que homens e mulheres podem desempenhar com competência essas funções. Trata-se de um equívoco afirmar que habilidades como coordenação motora fina, paciência, concentração boa observação, dedicação, atenção e exercício simultâneo de várias tarefas seriam características típicas do gênero feminino. Isso é um mito, pois tais habilidades podem ser desenvolvidas por qualquer um e foram adquiridas nas relações sociais históricas entre homens e mulheres, a partir de suas experiências de vida e de trabalho, como mostram estudos da Antropologia.

  • Desigualdades étnico-raciais o mercado de trabalho
Outras formas de desigualdade, historicamente construídas, envolvem a diversidade de gêneros e etnias.
A escravidão de africanos e seus descendentes até o final do século XIX e as dificuldades de integração social e econômica impostas aos libertos, após a abolição, construíram uma herança de desigualdades no país. É possível afirmar que, atualmente, a cor da pele ainda é usada para restringir o acesso de alguns profissionais a empregos mais qualificados, levando-os a desempenhar funções de baixa remuneração e especialização. Essa discriminação social reforçada contradiz as mensagens afirmando que o Brasil é uma “democracia racial”. Essas práticas são formas veladas de racismo que dificultam seu combate e, como consequência, tornam mais difícil atingir a meta de participação igualitária do segmento de pretos e pardos no mercado de trabalho, conforme dados do IBGE.
A segmentação do mercado de trabalho e as diversas formas de discriminação estão, quase sempre, associadas à má distribuição da renda e à falta de políticas sociais que valorizem o indivíduo. Atualmente, cotas e outras ações afirmativas visam ampliar o acesso a bens ou serviços essenciais para as parcelas menos favorecidas da população, promovendo a participação e facilitando o acesso desses segmentos aos serviços oferecidos pelo poder público.
Essas políticas de inserção tendem a amenizar o problema, mas se concentram nas consequências, e não nas causas. A reserva de vagas em universidades públicas e os programas oficiais de financiamento da educação são algumas das formas de compensar parcialmente as dificuldades no acesso de grande parte da população em idade escolar à educação de qualidade. Porém, para uma efetiva repercussão dos efeitos da formação no mercado de trabalho, é necessário mais tempo e investimentos, e, para uma participação igualitária, outros fatores precisam somar-se à educação.
A educação formal e a qualificação profissional são importantes, mas não são suficientes para a geração de empregos ou para garantir a manutenção das pessoas em seus postos de trabalho. Principalmente se atitudes discriminatórias, sejam elas de gênero, étnico-racial ou outras, mantiverem-se.

  • Bibliografia


ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi Sociologia: volume único: ensino médio, 2. ed. São Paulo: Scipione, 2016.

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