quinta-feira, 30 de novembro de 2017

ÉTICA DO EQUILÍBRIO E ÉTICA DO DEVER - FILOSOFIA 2º ANO

Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo 
Série:    2° Ano 
Disciplina:   Filosofia - 2017
ÉTICA DO EQUILÍBRIO E ÉTICA DO DEVER

·       Aristóteles e a ética do equilíbrio
Aristóteles também desenvolveu uma reflexão ética racionalista, mas sem o dualismo corpo-alma platônico. Procurou construir uma ética mais realista, mais próxima do indivíduo concreto. Para tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser humano. Para o que tendemos? E respondeu: para a felicidade. Todos nós buscamos a felicidade.
E o que entende Aristóteles por felicidade? Para o filósofo, a felicidade não se confunde com o simples prazer, o prazer das sensações ou o prazer proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. A felicidade última e maior se encontraria na vida teórica, que promove o que há de mais essencialmente humano: a razão.
O indivíduo que se desenvolve no plano teórico, contemplativo, pode compreender a essência da felicidade e, de forma consciente, guiar sua conduta. Mas isso, no contexto histórico da Grécia antiga, seria privilégio de uma minoria. Segundo o filósofo, a pessoa comum, aquela que não pode se dedicar à atividade teórica, aprenderia a agir corretamente pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e reiterada de ações.
Assim, agir corretamente seria praticar as virtudes. E o que seria a virtude? Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explica:
“A excelência moral (virtude moral), então, é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num meio-termo determinado pela razão. Trata-se de um estado intermediário, porque nas várias formas de deficiência moral há falta ou excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, enquanto a excelência moral encontra e prefere o meio-termo. (p. 42)

A coragem, por exemplo, seria uma virtude situada entre a covardia (a deficiência) e a temeridade (o excesso). Assim, o filósofo propôs uma ética do meio-termo, na qual a virtude consistiria em procurar o ponto de equilíbrio entre o excesso e a deficiência.
Mas observe que esse ponto de equilíbrio não é fixo, isto é, não pode ser estabelecido de antemão, pois varia de acordo com a circunstância ou ocasião (onde, quando, quanto, com quem, com o quê, como etc.) Por exemplo: não é exatamente coragem reagir em um assalto a mão armada. Ou seja, não é esse tipo de atitude que garante excelência moral de uma pessoa. Como explicou Aristóteles:
[...] tanto o medo como a confiança, o apetite, a ira, a compaixão e em geral o prazer e a dor, podem ser sentidos em excesso ou em grau insuficiente; e, num caso como no outro, isto é um mal. Mas senti-los na ocasião apropriada, com referência aos objetos apropriados, para com as pessoas apropriadas, pelo motivo e da maneira conveniente, nisso consistem o meio-termo e a excelência característicos da virtude. (Ética a Nicômaco, p. 273.)

Também é importante notar que, tanto em Platão como em Aristóteles, a ética estava vinculada à vida pública. Aristóteles refere-se mesmo à política como um meio da ética, pois sendo o ser humano, por natureza, um ser sociopolítico, necessitaria da vida em comum para alcançar a felicidade como plenitude de seu bem-estar.

·       Kant e a ética do dever
Em seus textos Crítica da razão prática e Fundamentação da metafísica dos costumes, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) aponta a razão humana como uma razão legisladora, capaz de elaborar normas universais, uma vez que constitui um predicado universal dos seres humanos, isto é, uma capacidade comum a todos. As normas morais teriam, portanto, sua origem na razão.

·       Dever e liberdade
Embora, em Kant, as normas morais devam ser obedecidas como deveres, a noção kantiana de dever confunde-se com a própria noção de liberdade. Isso ocorre porque, em seu pensamento, o indivíduo que obedece a uma norma moral atende à liberdade da razão, ou seja, àquilo que a razão, no uso de sua liberdade, determinou como correto. Dessa forma, a sujeição à norma moral é o reconhecimento de sua legalidade, conferida pelos próprios indivíduos racionais.
Kant reforça essa ideia ao dizer que um ato só pode ser considerado moral quando praticado de forma autônoma, consciente e por dever. Com isso, acentua o reconhecimento do dever como uma expressão da racionalidade humana. A clareza dessa ideia é assim expressa pelo filósofo:
 Age apenas segundo uma máxima (um princípio) tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. (Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 59.)
Essa exigência é denominada por Kant de imperativo categórico, ou seja, é uma determinação imperativa que deve ser observada sempre, em toda e qualquer decisão ou ato moral que venhamos a praticar. Em outras palavras, o filósofo quer dizer que nossa ação deve ser tal que possa ser universalizada, ou seja, realizada por todos os outros indivíduos sem prejuízo da humanidade. Se não puder ser universalizada, não será moralmente correta e só acontecerá como exceção, nunca como regra. Vejamos como Kant se expressa a esse respeito:
Se prestarmos atenção ao que se passa em nós mesmos sempre que transgredimos qualquer dever, descobriremos que na realidade não queremos que a nossa máxima se torne lei universal, porque isso nos é impossível; o contrário dela é que deve universalmente continuar a ser lei; nós tomamos apenas a liberdade de abrir nela uma exceção para nós. (Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 63.)

·       Atos contrários à razão
E por que realizamos atos contrários ao dever e, portanto, contrários à razão? Kant dirá que é porque nossa vontade é também afetada pelas inclinações – que são os desejos, as paixões, os medos -, e não apenas pela razão. Por isso ele afirma que devemos educar a vontade para alcançar a boa vontade, que seria aquela guiada unicamente pela razão.
Em resumo, a ética kantiana é uma ética formal ou formalista, pois postula o dever como norma universal, sem se preocupar com a condição individual, em que cada um se encontra diante desse dever. Em outras palavras, Kant nos dá a forma geral da ação moralmente correta (o imperativo categórico), mas não diz nada acerca de seu conteúdo, não diz o que devemos fazer em cada situação concreta.


Fonte Bibliográfica:

COTRIM, Gilberto, Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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