segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

CULTURA E ETNOCENTRISMO - SOCIOLOGIA 3° ANO

Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo 
Série:    3° Ano 
Disciplina:   Sociologia - 2017
CULTURA
·       Conceitos
Cultura e ideologia talvez sejam os conceitos mais amplos das ciências sociais, com diferentes definições.
O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto de estudo de diversas ciências sociais. Félix Guattari, pensador francês (1930-1992) interessado nesse tema, reuniu os diferentes significados de “cultura” em três grupos, por ele designados cultura-valor, cultura-alma coletiva e cultura-mercadoria.
Cultura valoré o sentido mais antigo e aparece claramente na ideia de “cultivar o espírito”. É o que permite estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem ou determinar se o indivíduo pertence a um meio culto ou inculto, definindo um julgamento de valor sobre essa situação. Nesse grupo inclui-se o uso do termo para identificar, por exemplo, quem tem ou não cultura clássica, artística ou científica.
Cultura-alma coletivaé sinônimo de “civilização”. Ele expressa a ideia de que todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Nessa acepção, pode-se falar de cultura negra, cultura chinesa, cultura marginal, etc. Tal expressão presta-se assim aos mais diversos usos por aqueles que querem dar um sentido para a ação dos grupos aos quais pertencem, com a intenção de caracterizá-los ou identifica-los.
Cultura-mercadoria corresponde à “cultura de massa”. Ele não comporta julgamento de valor, como o primeiro significado, nem delimitação de um território específico, como o segundo. Nessa concepção, cultura compreende bens ou equipamentos – como os centros culturais, os cinemas, as bibliotecas - , as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos, e os conteúdos teóricos e ideológicos de produtos – como filme, discos e livros – que estão à disposição de quem quer e pode compra-los, ou seja, que estão disponíveis no mercado.
As três concepções de cultura estão presentes em nosso dia a dia, marcando sempre uma diferença bastante clara entre as pessoas – seja no sentido mais elitista (entre as que têm e as que não têm uma cultura clássica e erudita, por exemplo), seja no sentido de identificação com algum grupo específico, seja ainda em relação à possibilidade de consumir bens culturais. Todas essas concepções trazem a uma carga valorativa, dividindo indivíduos, grupos e povos entre os que têm e os que não têm cultura ou, mesmo, entre os que têm uma cultura superior e os que têm uma cultura inferior.
·       Cultura segundo a antropologia
O conceito de cultura com frequência é vinculado à Antropologia, como se fosse específico dessa área do conhecimento. Por isso vamos verificar como os antropólogos, partindo de uma visão universalista para uma visão particularista, definiam esse conceito
Edward B. Taylor – Uma das primeiras definições de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edward B. Taylor (1832-1917). De acordo com esse autor, cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Trata-se de uma definição universalista, ou seja, muito ampla, com a qual se procura expressar a totalidade da vida social humana, a cultura universal.
Franz Boas – Já o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942), que desenvolveu a maior parte de seus trabalhos nos Estados Unidos, tinha uma visão particularista. Ele pesquisou as diferentes formas culturais e demonstrou que as diferenças entre os grupos e sociedades humanas eram culturais, e não biológicas. Por isso, recusou a qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta.
Bronislaw Malinowski – o antropólogo inglês, Bronislaw Malinowski (1884-1942), antropólogo inglês, afirmava que, para fazer uma análise objetiva, era necessário examinar as culturas em seu estado atual, sem preocupações com suas origens. Concebia as culturas como sistemas funcionais e equilibrados, formados por elementos interdependentes que lhes davam características próprias, principalmente no tocante às necessidades básicas, como alimento, proteção e reprodução. Por ser interdependentes, esses elementos são poderiam ser examinados isoladamente.
Claude Lévi-Strauss – para Claude Lévi-Strauss (1908-2009), antropólogo que nasceu na Bélgica, mas desenvolveu a maior parte de seu trabalho na França, a cultura deve ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a linguagem, as regras matrimoniais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Esses sistemas se relacionam e influenciam a realidade social e física das diferentes sociedades.
A grande preocupação de Lévi-Strauss foi analisar o que era comum e constante em todas as sociedades, ou seja, as regras universais e os elementos indispensáveis para a vida social. Um desses elementos seria a proibição do incesto (relações sexuais entre irmãos ou entre pais e filhos), presente em todas as sociedades. Partindo dessa preocupação, ele desenvolveu amplos estudos sobre os mitos, demonstrando que os elementos essenciais da maioria deles se encontram em todas as sociedades ditas primitivas.
ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
·       Convivência com a diferença: o etnocentrismo
Ter uma visão de mundo, avaliar determinado assunto sob certa ótica, nascer e conviver em uma classe social, pertencer a uma etnia, ser homem ou mulher são algumas das condições que nos levam a pensar na diversidade humana, cultural e ideológica, e, consequentemente, na alteridade, isto é, no outro ser humano, que é igual a cada um de nós e, ao mesmo tempo, diferente.
Observa-se, no entanto, grande dificuldade na aceitação das diversidades em uma sociedade ou entre sociedades diferentes, pois os seres humanos tendem a tomar seu grupo ou sociedade como medida para avaliar os demais. Em outras palavras, cada grupo ou sociedade considera-se superior e olha com desprezo e desdém os outros, todos como estranhos ou estrangeiros. Para designar essa tendência, o sociólogo estadunidense William G. Summer (1840-1910) criou em 1906 o termo etnocentrismo.
Portanto, o etnocentrismo é a prática, rejeitada pela antropologia, de julgar outras culturas com base na própria cultura do julgador. A postura etnocêntrica reflete um sentimento de superioridade de um dado grupo em relação aos outros grupos sociais. Quanto maior a crença na superioridade de certo grupo, em todos os aspectos importantes, maior será a probabilidade de se responsabilizar os membros de outros grupos por acontecimentos não desejados. A radicalização do etnocentrismo leva muitas vezes a conflitos sociais graves entre grupos sociais.
Manifestações de etnocentrismo podem ser facilmente observadas em nosso cotidiano. Quando lemos notícias sobre crises enfrentadas por povos de outros países, por exemplo, com frequência estabelecemos comparações entre a cultura deles e a nossa, considerando a nossa superior, principalmente se as diferenças forem muito grandes. Na história não faltam exemplos desse tipo de comparação: na Antiguidade os romanos chamavam de “bárbaros” aqueles que não eram de sua cultura; no Renascimento, após os contatos com culturas diversas propiciadas pela expansão marítima, os europeus passaram a chamar os povos americanos de “selvagens”, e assim por diante.
O etnocentrismo foi um dos responsáveis pela geração de intolerância e preconceito – cultural, religioso, étnico e político -, assumindo diferentes expressões no decorrer da história. Em nossos dias ele se manifesta, por exemplo, na ideologia racista da supremacia do branco sobre o negro ou de uma etnia sobre as outras. Manifesta-se, também, num mundo globalizado, na ideia de que a cultura ocidental é superior, e os povos de culturas diferentes devem assumi-la, modificando suas crenças, normas e valores. Essa forma de etnocentrismo pode levar a consequências sérias em nossa convivência com os outros e nas relações entre os povos.
·       Relativismo cultural
A posição cultural relativista tem como fundamento a ideia de que os indivíduos são condicionados a um modo de vida específico e particular, por meio de processo de endoculturação (processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte. Este processo de aprendizagem é permanente, desde a infância até à idade adulta de um indivíduo). Adquirem, assim, seus próprios sistemas de valores e sua própria integridade cultural.
Toda cultura é considerada como configuração saudável para os indivíduos que a praticam. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a ideia de normas e valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre relativas à própria cultura onde surgem.
Os padrões ou valores de certo ou errado, dos usos e costumes, das sociedades em geral, estão relacionados com a cultura da qual fazem parte. Dessa maneira, um costume pode ser válido em relação a um ambiente cultural e não a outro e, mesmo, ser repudiado.
Exemplo – No Brasil, come-se manteiga; na África, ela serve para untar o corpo. Pescoços longos (mulheres-girafas da Birmânia), lábios deformados (indígenas brasileiros), nariz furado (indianas), escarificação facial (entre aborígenes australianos), deformações cranianas (índios sul-americanos) são valores culturais para essas sociedades. Esses tipos de adornos significam beleza. O infanticídio e o gerontocídio, costumes praticados em algumas culturas (esquimós), são totalmente rejeitados por outras.
O confronto entre o relativismo cultural e o etnocentrismo coloca algumas questões importantes, tais como: todas as práticas culturais devem ser consideradas como igualmente legítimas? Existem padrões universais que todos os indivíduos devem seguir?
Fonte Bibliográfica:
PENA, Marcelo, Pré-Universitário: filosofia & Sociologia, anual, volume único – Fortaleza: FB Editora, 2014

TOMAZI, Nelson Dacio. , Sociologia para o ensino médio, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

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