Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 3°
Ano
Disciplina: Sociologia - 2017
CULTURA
· Conceitos
Cultura e ideologia talvez sejam os conceitos mais amplos
das ciências sociais, com diferentes definições.
O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto
de estudo de diversas ciências sociais. Félix Guattari, pensador francês
(1930-1992) interessado nesse tema, reuniu os diferentes significados de
“cultura” em três grupos, por ele designados cultura-valor, cultura-alma
coletiva e cultura-mercadoria.
Cultura valor – é o sentido mais antigo e aparece
claramente na ideia de “cultivar o espírito”. É o que permite
estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem ou determinar se
o indivíduo pertence a um meio culto ou inculto, definindo um julgamento de
valor sobre essa situação. Nesse grupo inclui-se o uso do termo para
identificar, por exemplo, quem tem ou não cultura clássica, artística ou
científica.
Cultura-alma coletiva – é sinônimo de
“civilização”. Ele expressa a ideia de que todas as pessoas, grupos e povos têm
cultura e identidade cultural. Nessa acepção, pode-se falar de cultura negra,
cultura chinesa, cultura marginal, etc. Tal expressão presta-se assim aos
mais diversos usos por aqueles que querem dar um sentido para a ação dos grupos
aos quais pertencem, com a intenção de caracterizá-los ou identifica-los.
Cultura-mercadoria – corresponde à “cultura de
massa”. Ele não comporta julgamento de valor, como o primeiro significado, nem
delimitação de um território específico, como o segundo. Nessa concepção,
cultura compreende bens ou equipamentos – como os centros culturais, os
cinemas, as bibliotecas - , as pessoas que trabalham nesses estabelecimentos, e
os conteúdos teóricos e ideológicos de produtos – como filme, discos e livros –
que estão à disposição de quem quer e pode compra-los, ou seja, que estão
disponíveis no mercado.
As três concepções
de cultura estão presentes em nosso dia a dia, marcando sempre uma diferença
bastante clara entre as pessoas – seja no sentido mais elitista (entre as que
têm e as que não têm uma cultura clássica e erudita, por exemplo), seja no
sentido de identificação com algum grupo específico, seja ainda em relação à
possibilidade de consumir bens culturais. Todas essas concepções trazem a
uma carga valorativa, dividindo indivíduos, grupos e povos entre os que têm e
os que não têm cultura ou, mesmo, entre os que têm uma cultura superior e os
que têm uma cultura inferior.
· Cultura segundo a
antropologia
O conceito de
cultura com frequência é vinculado à Antropologia, como se fosse específico
dessa área do conhecimento. Por isso vamos verificar como os antropólogos,
partindo de uma visão universalista para uma visão particularista, definiam
esse conceito
Edward B. Taylor – Uma das primeiras definições
de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edward B. Taylor (1832-1917).
De acordo com esse autor, cultura é o conjunto complexo de conhecimentos,
crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos
em uma sociedade. Trata-se de uma definição universalista, ou seja, muito
ampla, com a qual se procura expressar a totalidade da vida social humana, a
cultura universal.
Franz Boas – Já o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942),
que desenvolveu a maior parte de seus trabalhos nos Estados Unidos, tinha uma
visão particularista. Ele pesquisou as diferentes formas culturais e
demonstrou que as diferenças entre os grupos e sociedades humanas eram
culturais, e não biológicas. Por isso, recusou a qualquer generalização que
não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta.
Bronislaw Malinowski – o antropólogo inglês,
Bronislaw Malinowski (1884-1942), antropólogo inglês, afirmava que, para fazer
uma análise objetiva, era necessário examinar as culturas em seu estado atual,
sem preocupações com suas origens. Concebia as culturas como sistemas
funcionais e equilibrados, formados por elementos interdependentes que lhes
davam características próprias, principalmente no tocante às necessidades
básicas, como alimento, proteção e reprodução. Por ser interdependentes,
esses elementos são poderiam ser examinados isoladamente.
Claude Lévi-Strauss – para Claude Lévi-Strauss
(1908-2009), antropólogo que nasceu na Bélgica, mas desenvolveu a maior parte
de seu trabalho na França, a cultura deve ser considerada como um conjunto
de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a linguagem, as regras
matrimoniais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Esses
sistemas se relacionam e influenciam a realidade social e física das diferentes
sociedades.
A grande preocupação
de Lévi-Strauss foi analisar o que era comum e constante em todas as
sociedades, ou seja, as regras universais e os elementos indispensáveis para a
vida social. Um desses elementos seria a proibição do incesto (relações sexuais
entre irmãos ou entre pais e filhos), presente em todas as sociedades.
Partindo dessa preocupação, ele desenvolveu amplos estudos sobre os mitos,
demonstrando que os elementos essenciais da maioria deles se encontram em todas
as sociedades ditas primitivas.
ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
· Convivência com a
diferença: o etnocentrismo
Ter uma visão de mundo, avaliar
determinado assunto sob certa ótica, nascer e conviver em uma classe social,
pertencer a uma etnia, ser homem ou mulher são algumas das condições que nos
levam a pensar na diversidade humana, cultural e ideológica, e,
consequentemente, na alteridade, isto é, no outro ser humano, que é igual a
cada um de nós e, ao mesmo tempo, diferente.
Observa-se, no entanto, grande
dificuldade na aceitação das diversidades em uma sociedade ou entre sociedades
diferentes, pois os seres humanos tendem a tomar seu grupo ou sociedade como
medida para avaliar os demais. Em outras palavras, cada grupo ou sociedade
considera-se superior e olha com desprezo e desdém os outros, todos como
estranhos ou estrangeiros. Para designar essa tendência, o sociólogo
estadunidense William G. Summer (1840-1910) criou em 1906 o termo etnocentrismo.
Portanto, o etnocentrismo é a
prática, rejeitada pela antropologia, de julgar outras culturas com base na
própria cultura do julgador. A postura etnocêntrica reflete um sentimento de
superioridade de um dado grupo em relação aos outros grupos sociais. Quanto
maior a crença na superioridade de certo grupo, em todos os aspectos
importantes, maior será a probabilidade de se responsabilizar os membros de
outros grupos por acontecimentos não desejados. A radicalização do
etnocentrismo leva muitas vezes a conflitos sociais graves entre grupos
sociais.
Manifestações
de etnocentrismo podem ser facilmente observadas em nosso cotidiano. Quando
lemos notícias sobre crises enfrentadas por povos de outros países, por
exemplo, com frequência estabelecemos comparações entre a cultura deles e a
nossa, considerando a nossa superior, principalmente se as diferenças forem
muito grandes. Na história não faltam exemplos desse tipo de comparação: na
Antiguidade os romanos chamavam de “bárbaros” aqueles que não eram de sua
cultura; no Renascimento, após os contatos com culturas diversas propiciadas
pela expansão marítima, os europeus passaram a chamar os povos americanos de
“selvagens”, e assim por diante.
O
etnocentrismo foi um dos responsáveis pela geração de intolerância e
preconceito – cultural, religioso, étnico e político -, assumindo diferentes
expressões no decorrer da história. Em nossos dias ele se manifesta, por
exemplo, na ideologia racista da supremacia do branco sobre o negro ou de uma
etnia sobre as outras. Manifesta-se, também, num mundo globalizado, na ideia de
que a cultura ocidental é superior, e os povos de culturas diferentes devem
assumi-la, modificando suas crenças, normas e valores. Essa forma de
etnocentrismo pode levar a consequências sérias em nossa convivência com os
outros e nas relações entre os povos.
· Relativismo cultural
A posição cultural
relativista tem como fundamento a ideia de que os indivíduos são condicionados
a um modo de vida específico e particular, por meio de processo de
endoculturação (processo permanente de aprendizagem de uma
cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do
nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte. Este processo de
aprendizagem é permanente, desde a infância até à idade adulta de um indivíduo). Adquirem, assim, seus próprios sistemas de valores e sua
própria integridade cultural.
Toda cultura é
considerada como configuração saudável para os indivíduos que a praticam. Todos
os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes dos seus. Por
isso, o relativismo cultural não concorda com a ideia de normas e valores
absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre
relativas à própria cultura onde surgem.
Os padrões ou
valores de certo ou errado, dos usos e costumes, das sociedades em geral, estão
relacionados com a cultura da qual fazem parte. Dessa maneira, um costume pode
ser válido em relação a um ambiente cultural e não a outro e, mesmo, ser
repudiado.
Exemplo – No
Brasil, come-se manteiga; na África, ela serve para untar o corpo. Pescoços longos
(mulheres-girafas da Birmânia), lábios deformados (indígenas brasileiros),
nariz furado (indianas), escarificação facial (entre aborígenes australianos),
deformações cranianas (índios sul-americanos) são valores culturais para essas
sociedades. Esses tipos de adornos significam beleza. O infanticídio e o
gerontocídio, costumes praticados em algumas culturas (esquimós), são
totalmente rejeitados por outras.
O confronto entre
o relativismo cultural e o etnocentrismo coloca algumas questões importantes,
tais como: todas as práticas culturais devem ser consideradas como
igualmente legítimas? Existem padrões universais que todos os indivíduos devem
seguir?
Fonte Bibliográfica:
PENA, Marcelo, Pré-Universitário: filosofia &
Sociologia, anual, volume único – Fortaleza: FB Editora, 2014
TOMAZI, Nelson Dacio. , Sociologia para o ensino médio, 2ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
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