Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 2°
Ano
Disciplina: Sociologia - 2017
SOCIOLOGIA NO BRASIL - GERAÇÃO DE 1930
· Origem
A Sociologia sempre teve como um dos objetos de
estudos o conflito entre as classes sociais. Na América Latina, por exemplo,
a Sociologia do início do século XX sofreu intensas influências das teorias
marxistas, na medida em que suas preocupações passaram a ser o
subdesenvolvimento dos países latinos.
No Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, estudiosos se
debruçaram em busca do entendimento da formação da sociedade brasileira,
analisando temas como abolição da escravatura, êxodos e estudos sobre índios e
negros. Dentre os autores mais significativos, temos: Sérgio Buarque de
Holanda (Raízes do Brasil-1936), Gilberto Freyre (Casa Grande &
Senzala-1933) e Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemporâneo-1942)
Nas décadas seguintes, a Sociologia praticada no Brasil
voltou-se aos estudos de temas relacionados às classes trabalhadoras, tais como
salários e jornadas de trabalho, e também comunidades rurais.
Na década de 1960 a Sociologia passou a se
preocupar com o processo da industrialização do país, nas questões de
reforma agrária e movimentos sociais na cidade e no campo; a partir de 1964
o trabalho dos sociólogos se voltou para os problemas socioeconômicos e
políticos brasileiros, originados pela tensão de se viver num regime
militar (ou ditadura militar, que no Brasil foi de 1964 a 1985), nesse período
a Sociologia foi banida do ensino secundarista.
Na década de 1980 a Sociologia
finalmente voltou a ser disciplina no ensino médio, sendo facultativa sua
presença na grade curricular. Também ocorreu nesse período a profissionalização da Sociologia no
Brasil. Além da preocupação com a economia, política e mudanças sociais
apropriadas com a instalação da nova república (1985), os sociólogos
diversificaram os horizontes e ampliaram seus leques de estudos, voltaram-se
para o estudo da mulher, do trabalhador rural e outros assuntos culminantes.
Em 2009, a Sociologia
tornou-se disciplina obrigatória na grade curricular dos alunos do ensino médio
no Brasil. A oportunidade da aproximação do aluno com a Sociologia, como um
campo do saber, tem por objetivo a desnaturalização das concepções ou
explicações dos fenômenos sociais. Em outras palavras e sem perder de vista
a importância da História, é considerar que as coisas nem sempre foram do jeito
que são. É perceber que há mudanças profundas ao longo da história, fruto de
decisões de homens.
Orson Camargo
· Formação do povo
brasileiro
Uma só palavra ou teoria não
seria capaz de abarcar todos os processos e experiências históricas que
marcaram a formação do povo brasileiro. Marcados pelas contradições do
conflito e da convivência, constituímos uma nação com traços singulares que
ainda se mostram vivos no cotidiano dos vários tipos de “brasileiros” que
reconhecemos nesse território de dimensões continentais para sua existência social como objeto de estudo.
· O europeu e o índio
A primeira marcante mistura
aconteceu no momento em que as populações indígenas da região entraram em
contato com os colonizadores do Velho Mundo. Em meio ao interesse de
exploração e o afastamento dos padrões morais europeus, os portugueses
engravidaram várias índias que deram à luz nossa primeira geração de
mestiços. Fora da dicotomia imposta entre os “selvagens” (índios) e os
“civilizados” (europeus), os mestiços formam um primeiro momento do nosso
variado leque de misturas.
· O europeu e o negro
Tempos depois, graças ao interesse
primordial de se instalar a empresa açucareira, uma grande leva de africanos
foi expropriada de suas terras para viverem na condição de escravos. Chegando a um lugar distante de suas
referências culturais e familiares, tendo em vista que os mercadores separavam
os parentes, os negros tiveram que reelaborar o seu meio de ver o mundo com as
sobras daquilo que restava de sua terra natal.
Isso não quer dizer que eles viviam
uma mesma realidade na condição de escravos. Muitos deles, não suportando o
trauma da diáspora, recorriam ao suicídio, à violência e aos quilombos para se
livrar da exploração e elaborar uma cultura à parte da ordem colonial. Outros
conseguiam meios de comprar a sua própria liberdade ou, mesmo sendo vistos como
escravos, conquistavam funções e redes de relacionamento que lhes concediam uma
vida com maiores possibilidades.
Não se limitando
na esfera de contato entre o português e o nativo, essa mistura de povos também
abriu novas veredas com a exploração sexual dos senhores sobre as suas
escravas. No abuso da carne de suas “mercadorias fêmeas”, mais uma parcela de
inclassificáveis se constituía no ambiente colonial. Com o passar do tempo, os
paradigmas complexos de reconhecimento dessa nova gente passou a limitar na cor
da pele e na renda a distinção dos grupos sociais.
· Outras gentes
Ainda assim, isso não impedia
que o caleidoscópio de gentes estabelecesse uma ampla formação de outras
culturas que marcaram a regionalização de tantos espaços. Os citadinos das grandes
metrópoles do litoral, os caipiras do interior, os caboclos das regiões áridas
do Nordeste, os ribeirinhos da Amazônia, a região de Cerrado e os pampas
gaúchos são apenas alguns dos exemplos que escapam da cegueira restritiva das
generalizações.
· Outros povos
Enquanto tantas sínteses aconteciam
sem alcançar um lugar comum, o modelo agroexportador foi mui vagarosamente
perdendo espaço para os anseios da modernização capitalista. A força rude e
encarecida do trabalho escravo acabou abrindo espaço para a entrada de outros
povos do Velho Mundo. Muitos deles, não suportando os abalos causados pelas
teorias revolucionárias, o avanço do capitalismo e o fim das monarquias,
buscaram uma nova oportunidade nessa já indefinida terra brasilis.
Italianos, alemães, poloneses,
japoneses, eslavos e tantos mais não só contribuíram para a exploração de novas
terras, como cumpriram as primeiras jornadas de trabalho em ambiente fabril. Assim, chegamos às primeiras décadas do
século XX, quando nossos intelectuais modernistas pensaram com mais intensidade
essa enorme tralha de culturas que forma a cultura de um só lugar. E assim,
apesar das diferenças, frestas, preconceitos e jeitinhos, ainda reconhecemos o
tal “brasileiro”.
SOCIEDADE E ECONOMIA NA
PRIMEIRA REPÚBLICA
- Sociedade rural
Considerando que 69,7% da população trabalhava no setor
agrícola e uma parte do setor de serviços situava-se também na zona rural,
podemos dizer que cerca de ¾ da população brasileira ativa trabalhava na zona
rural. Os 13,8% que atuavam
na indústria, por sua vez, mais a outra parte dos profissionais do setor de
serviços, totalizariam, aproximadamente, o outro ¼ da população e estariam
sediados em zonas urbanas.
- Coronelismo
Coronelismo foi o sistema de dominação, característico da
Primeira República, exercido por grandes proprietários rurais (os “coronéis),
que se tornaram verdadeiros “caciques” ou líderes políticos das cidades ou
regiões onde estavam estabelecidos. Em suas
fazendas, os coronéis exploravam um grande número de trabalhadores, que
recebiam salários miseráveis e passavam a depender de seu auxílio (na forma de
empréstimos em dinheiro, educação dos filhos e em momentos de doença). Nas
cidades, eles controlavam, pessoalmente, os principais empregos e cargos: na
prefeitura, na delegacia, na escola, no cartório público e na estação de trem;
os comerciantes, médicos, advogados, prefeitos, vereadores, delegados, juízes,
padres e professores procuravam se aproximar dos coronéis, em busca de favores.
- As exportações brasileiras
No período de 1889 a 1933 o café liderou a pauta de
exportações. Não considerando outros produtos, o segundo lugar foi ocupado pela
borracha, entre 1889 e 1918, e por couro e peles, entre 1919 e 1933. Durante a Primeira Guerra Mundial o produto que teve a
maior queda significativa das exportações foi o café.
- O café
Durante a Primeira República, o estímulo as atividades
agroexportadoras esteve entre as prioridades do governo federal. O café, o
“ouro verde”, representou o principal produto de exportação. No início do século XIX, As plantações de café já haviam
se expandido por diversos estados além de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A maioria dos imigrantes utilizados nas fazendas de café
provinha de regiões rurais da Europa. Eles entraram no país entre o final do
século XIX e início do XX e foram
trabalhar, principalmente, nos cafezais de São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro. Com o passar dos
anos, muitos imigrantes abandonaram os cafezais e seguiram em direção às
cidades em busca de melhores condições de vida e trabalho.
- A borracha e o cacau
Além do café, a borracha e o cacau também tiveram seu
apogeu na pauta de exportações brasileiras durante a Primeira República. O
declínio na venda desses produtos ocorreu porque os países compradores da
Europa começaram a investir em sua produção:
Inglaterra e Holanda passaram a cultivar seringais na Malásia, no Ceilão e na
Indonésia; o cacau passou a ser cultivado pelos ingleses na Costa do Ouro
(África). Essas produções logo conquistaram os mercados internacionais, fazendo
declinar as vendas do cacau e da borracha brasileiros.
- Imigração, industrialização e mudanças sociais
O período da Primeira República também foi marcado pela grande
imigração, principalmente europeia, e pelo avanço industrial no país.
Os dois processos tiveram diversos impactos na sociedade brasileira, entre
os quais se destaca o surgimento do movimento operário.
- Imigração para São Paulo
O estado de São Paulo, com cerca de 57% do total de
imigrantes, foi o estado brasileiro que recebeu o maior número de imigrantes
entre 1890 e 1930. Isso se deveu, em boa medida, à expansão da economia
cafeeira, que abria milhares de postos de trabalho, e à política do governo
paulista de incentivo à imigração, fazendo propaganda no exterior e concedendo
passagens e alojamentos aos imigrantes.
- Fatores que impulsionaram a industrialização na Primeira República
A expansão dos cafezais, paralelamente às crises
de superprodução, quando muitos cafeicultores aplicaram seus lucros na
indústria, além da existência de um grande número de ex-escravos e imigrantes
que deixaram o campo e o trabalho na agricultura em busca de novas
oportunidades, representando oferta de mão de obra para o setor industrial.
- As condições de trabalho dos operários na indústria
Os operários eram submetidos a jornadas de trabalho
muito longas (15 horas por dia, de segunda a sábado e, às vezes, até domingo);
para suprir os salários muito baixos, a família toda era obrigada a trabalhar. Não
havia legislação que assegurasse direitos trabalhistas, como salário mínimo,
férias, aviso prévio ou indenização em caso de demissão. Os locais de trabalho
apresentavam condições muito ruins: pouco espaço, sem iluminação, ventilação ou
cuidados com higiene e segurança. Os acidentes de trabalho eram muito
frequentes e atingiam principalmente as crianças, que também sofriam outras
formas de violência (incluindo castigos físicos). As mulheres eram, ainda,
vítimas de assédio sexual por parte de mestres e contramestres. Em reação,
surgiram várias formas de organização operária, entre elas os sindicatos, que
lutaram pela conquista dos direitos trabalhistas e sociais.
- A primeira greve geral de operários no Brasil
Em julho de 1917 ocorreu a primeira greve geral de
operários no Brasil, quando houve vários enfrentamentos com a polícia, e o
sapateiro anarquista José Martinez, de 21 anos de idade, morreu baleado. Os
grevistas reivindicavam aumentos salariais, jornada de trabalho de oito horas,
direito de associação, libertação dos grevistas presos etc.
- Reação das elites econômicas e das autoridades
Na greve geral de 1917 tiveram de negociar, fazendo várias
promessas, que depois não foram totalmente cumpridas. Para as elites
políticas e econômicas do país, insensíveis às necessidades dos trabalhadores,
as manifestações operárias não passavam de baderna, que afetava seus
interesses, sendo consideradas por isso “caso de polícia” (expressão do
presidente da República Washington Luís). Assim, os protestos dos
trabalhadores não mereceram a devida atenção dos empresários e dos políticos
até o final desse período, sendo tratados com o uso da violência policial.
Fonte Bibliográfica:
BOMENY,
Helena... [et ali] (coordenação), Tempos modernos, tempos de sociologia: ensino
médio, volume único, 2. ed. São Paulo: Editora do Brasil, 2013.
COTRIM,
Gilberto, Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
CAMARGO, Orson. "Sociologia no Brasil"; Brasil
Escola. Disponível em
.
Acesso em 19 de janeiro de 2017.
SOUSA, Rainer Gonçalves. "Formação do Povo
Brasileiro"; Brasil Escola. Disponível em
. Acesso em 19
de janeiro de 2017.
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