Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio
Vladimir de Araújo
Série: 1° Ano
Disciplina: Filosofia
- 2017
Filosofia,
felicidade mito e logos
·
Experiência
filosófica
A
experiência filosófica compreende três etapas básicas:
Estranhamento ou deslocamento
– trata-se do primeiro passo da experiência filosófica.
Quando uma pessoa vive uma circunstância de deslocamento ou estranhamento,
experimenta uma quebra ou interrupção no fluir normal de sua vida. Detém-se,
então, para pensar ou observar algo que antes não via, ou que vivia de forma
automática, sem se dar conta, sem atenção, sem se questionar.
Questionamento ou
indagação – Trata-se do segundo passo da
experiência filosófica. Após viver o estranhamento, a pessoa inicia um processo
de questionamento (interno e externo) sobre o tema que lhe chamou a atenção.
Resposta filosófica – Trata-se
do terceiro passo para que haja uma experiência filosófica completa. Após os
dois primeiros passos, estranhamento e questionamento, trata-se agora,
portanto, de construir uma resposta para os questionamentos e indagações.
Após
uma reflexão serena e profunda, a resposta a ser elaborada deverá constituir um
discurso, isto é, a enunciação de um raciocínio, no qual as ideias deverão
estar ordenadas de maneira lógica no sentido de expressar um entendimento sobre
o problema e, na medida do possível, encontrar uma “solução” para ele. Além
disso, esse discurso deverá ter um caráter universal, isto é, pode ser aplicado
a todos os casos ou pessoas. Essas são as características importantes de uma
resposta filosófica. As respostas filosóficas não são “qualquer” resposta,
pois filosofar não é pensar de qualquer maneira, seja quando se pergunta ou
quando se responde.
·
O
significado da palavra filosofia
A
palavra filosofia é formada pelos termos gregos philos, “amigo”, “amante”, e
sophia, “sabedoria”. Portanto, filosofia quer dizer “amor à sabedoria”. E
sabedoria, para os gregos, não era apenas um grande saber teórico, mas
principalmente prático, tendo em vista que buscava atender ao que consideravam
objetivo supremo da vida humana: a felicidade.
·
A
origem da palavra filosofia
Conforme
a tradição histórica, a palavra filosofia foi usada pela primeira vez pelo
pensador Pitágoras (570-490 a.C), quando o príncipe Leone perguntou-lhe sobre a
natureza de sua sabedoria. Pitágoras respondeu: “Sou apenas um filósofo”.
Com essa resposta, pretendia esclarecer que não detinha a posse da sabedoria.
Assumia a posição de “amante do saber”, isto é, alguém que quer, ama e deseja o
saber.
Com
o decorrer do tempo, entretanto, a palavra filosofia foi ganhando um
significado mais específico, passando a designar a busca de um tipo especial
de sabedoria: aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação
racional.
·
Relação
histórica entre felicidade e filosofia
A
filosofia, em sua origem, há mais de 25 séculos, apresentava-se como um
conhecimento superior que conduzia à vida boa, isto é, que indicava como viver
para ser feliz. O filósofo se reconhecia como aquele
que buscava, praticava e ensinava um método, um caminho para a felicidade.
Nesse sentido, ele se tornava um sábio, e sabedoria, para os gregos, não era
apenas um grande saber teórico, mas principalmente prático, tendo em vista que
buscava atender ao que consideravam o objetivo supremo da vida humana: a
felicidade.
·
Finalidade
última
É
aquela que está por detrás de todas as finalidades mais imediatas e conscientes
de uma ação. Geralmente inconsciente, ela é o motivo fundamental de uma
conduta.
De
acordo com o pensamento filosófico, podemos supor que a felicidade é igualmente
a finalidade última de todos os nossos atos, mesmo de ações que parecem “ruins”
por algum tempo, ou daquelas que realmente nos fazem mal e aos outros.
É que, no fundo – conforme acreditam vários filósofos e psicólogos -, a
intenção última de toda ação ou conduta é “positiva” no sentido de que,
consciente ou inconscientemente, a pessoa está buscando, por meio dessa ação,
trazer, preservar, aumentar seu bem-estar, ou mesmo evitar, acabar com uma dor,
um sofrimento, uma tristeza.
·
Mito
e logos
O
mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à
palavra que demonstra. Logos e mito são duas metades da linguagem, duas funções
igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos sendo uma
argumentação pretende convencer. O mito tem por finalidade apenas por si
mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de
fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente por que se quer acreditar.
O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no
pensamento humano.
·
A
passagem do mito ao logos
A
filosofia nasceu na Grécia entre os séculos VII e VI a.C., promovendo a
passagem do saber mítico (alegórico) ao pensamento racional (logos). Essa
passagem ocorreu durante longo processo histórico, sem um rompimento brusco e
imediato com as formas de conhecimento utilizadas no passado.
Durante
muito tempo os primeiros filósofos gregos compartilhavam de crenças míticas,
enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia.
Essa transição do mito à razão “significa precisamente que já havia, de um
lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade filosófica ainda
está incluído o poder do lendário.
·
A
força da mensagem dos mitos
A
força da mensagem dos mitos reside, portanto, na capacidade que eles têm de
sensibilizar estruturas profundas, inconscientes, do psiquismo humano.
·
A
mitologia grega
Os
gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena etc.), além de
heróis ou semideuses (Teseu, Hércules, Perseu, Aquiles, etc.) relatando a vida
desses deuses e heróis e seu envolvimento com os humanos, criaram uma rica
mitologia, isto é, um conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico,
fornecem explicações para a realidade universal. A mitologia grega é formada
por grande número de “relatos maravilhosos” ou lendas que inspiraram e ainda
inspiram diversas obras artísticas ocidentais.
O
mito de Édipo, rico em significados, é um exemplo disso. Na antiguidade, foi
utilizado pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a.C), na tragédia de Édipo rei,
para uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos
indivíduos perante as normas e os tabus.
·
Polis
e razão
Segundo
análise do historiador e filósofo francês Jean-Pierre Vernant (1914-2007), o
momento histórico da Grécia antiga em que se afirma a utilização do logos
(razão) para resolver os problemas da vida estaria vinculado ao surgimento da
pólis, cidade-Estado grega.
A
pólis foi uma nova forma de organização social e política, desenvolvida
entre os séculos VII e VI a.C., na qual os cidadãos passaram a dirigir os
destinos da cidade. Entendida como criação dos próprios cidadãos, e não dos
deuses, a pólis podia ser explicada e organizada de forma racional, isto é, de
acordo com a razão.
Uma
das características das cidades-Estado gregas – especialmente Atenas – era a
prática constante da discussão política em praça pública pelos cidadãos.
Isso contribuiu para que o raciocínio bem formulado e convincente se tornasse,
com o tempo, o modo adotado para refletir sobre todas as coisas, não só
questões políticas.
Por
isso, pra Vernant, a razão grega é filha da pólis, e o nascimento da
filosofia relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual que então
surgiu.
Fonte
Bibliográfica:
COTRIM, Gilberto, , Mirna Fernandes ,
Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.