Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 2°
Ano
Disciplina: Filosofia
- 2017
ESCOLÁSTICA
· Contexto
histórico do surgimento da escolástica
Contribuiu para o desenvolvimento da
escolástica o contexto surgido com a renascença carolíngia, iniciada, durante o
reinado de Carlos Magno (século VIII), que estimulou a atividade cultural
reorganizando o ensino e fundando escolas ligadas às instituições católicas.
Com isso, a cultura greco-romana, guardada nos mosteiros até então, voltou a
ser estudada e propagada, passando a ter uma influência mais marcante nas
reflexões da época. A descoberta das obras de Aristóteles, ocorrida nesse
período (século XIII), também influiu no desenvolvimento da escolástica.
· A
escolástica
Adotou-se nas escolas a educação romana
como modelo. Começaram a ser ensinadas matérias como o trivium (gramática,
retórica e dialética) e o quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e
música). Todas elas, no entanto, estavam submetidas a teologia.
Com o ambiente cultural dessas escolas e
o surgimento posterior das primeiras universidades (a partir do século XI),
desenvolveu-se um produção filosófica-teológica denominada escolástica
(palavra derivada de escola).
A escolástica não abandonou, em um
primeiro momento, a filosofia platônica, especialmente o neoplatonismo. Mas, a
partir do século XIII, o aristotelismo penetrou de forma profunda no pensamento
escolástico, marcando-o definitivamente.
· A
questão dos universais
A questão dos universais, surgida no
contexto dos estudos escolásticos (trivium e quadrivium), foi uma discussão
acerca da relação entre as palavras e as coisas, especialmente aquelas
referentes a ideias gerais ou conceitos (os universais de Aristóteles).
Essa discussão levou ao surgimento de
duas posições antagônicas e de uma terceira, intermediária. De um lado ficaram
os que sustentavam uma interpretação realista da questão, isto é, a tese de que
os universais existiam de fato. Do outro lado posicionaram-se os nominalistas,
que defendiam a tese de que o universal não existiria em si mesmo, seria apenas
uma palavra, um nome, sem existência real. A terceira posição entendia que tais
conceitos não seriam nem entidades metafísicas (posição do realismo) nem
palavras vazias (posição do nominalismo), e sim discursos mentais, categorias
lógico-linguísticas que fazem a mediação, a ligação entre o mundo do pensamento
e o mundo do ser.
Realismo – os adeptos do realismo
sustentavam a tese de que os universais existem de fato, ou seja, as ideias
universais possuem existência própria. Por exemplo: a bondade e a beleza são
modelos ou moldes a partir dos quais se criam as coisas boas e as coisas belas.
Os termos universais seriam, portanto, entidades metafísicas, essências
separadas das coisas individuais.
Nominalismo – os defensores do
nominalismo, por sua vez, sustentavam a tese de que termos universais, tais
como beleza e bondade, não existem em si mesmos, pois são somente palavras, sem
existência real. Para os nominalistas, o que há são apenas os seres singulares,
e o universal não passa, portanto, de um nome, uma convenção.
Realismo moderado – entre essas duas
posições contrárias surgiu uma terceira, o realismo moderado, sustentado por
Pedro Abelardo (1079-1142). Para esse filósofo francês, só existem as
realidades singulares, mas é possível buscar semelhanças entre os seres
individuais, por meio da abstração, de maneira tal a gerar os conceitos
universais.
Esses conceitos não seriam, de acordo com
Abelardo, nem entidades metafísicas (posição do realismo) nem palavras vazias
(posição do nominalismo), mas discursos mentais, categorias lógico-linguísticas
que fazem a mediação, a ligação entre o mundo do pensamento e o mundo do ser.
A importância da questão dos universais
está não só no avanço que essa discussão possibilitou em relação à investigação
sobre o conhecimento e seus vínculos com a realidade, mas também porque,
através dela, alcançou-se um alto nível de desenvolvimento lógico-linguístico.
Isso propiciou o fortalecimento de uma razão autônoma em relação à teologia, já
por volta do século XII.
· Tomás de Aquino
Tomás de Aquino nasceu em Nápoles, Sul da
Itália. Proclamado pela Igreja Católica como Doutor Angélico e Doutor por
excelência, é considerado um dos maiores filósofos da escolástica e
reverenciado nos meios católicos por filósofos e professores de filosofia.
A filosofia de Tomás de Aquino
(1226-1274) o tomismo – também teve o objetivo claro de não contrariar a fé,
empenhando-se em organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender
as revelações do cristianismo.
Tomás de Aquino reviveu em grande parte o
pensamento de aristotélico em busca de argumentos que explicassem os principais
aspectos da fé cristã. Assim, fez da filosofia de Aristóteles um instrumento a
serviço da solução dos problemas teológicos que enfrentava, ao mesmo tempo em
que transformou essa filosofia em uma síntese original.
· Provas
da existência de Deus
Outro aspecto importante da filosofia
tomista são suas provas da existência de Deus. Em um de seus livros, a “Suma
teológica”, propõe algumas vias como provas, fundamentadas na existência do
mundo e na experiência.
O primeiro motor (1ª prova) – tudo aquilo
que se move é movido por outro ser. Esse outro ser, por sua vez, para se mover
necessita também ser movido por outro ser, e assim sucessivamente. Se não
houvesse um primeiro se movente, cairíamos em processo indefinido. Logo,
conclui Tomás de Aquino, é necessário chegar a um primeiro ser movente que não
seja movido por nenhum outro. Esse ser é Deus;
A causa eficiente (2ª prova) – todas as
coisas existentes no mundo não possuem em si a causa eficiente de suas
existências. Devem ser consideradas efeitos de alguma causa. Tomás de Aquino
afirma ser impossível remontar indefinidamente à procura das causas eficientes.
Logo, é necessário admitir a existência de uma primeira causa eficiente,
responsável pela sucessão de efeitos. Essa causa primeira é Deus.
Ser necessário e ser contingente (3ª
prova) – esse argumento, uma variante do segundo, afirma que todo ser
contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as
coisas existem podem deixar de ser, então em algum momento nada existiu. Mas,
se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe somente
começa a existir em função de algo que já existia. Então é preciso admitir que
há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente necessário, que não tenha
fora de si a causa de sua existência, mas, ao contrário, que seja a causa da
necessidade de todos os seres contingentes. Esse ser necessário é Deus.
Além dessas Tomás de Aquino propõe,
também, as seguintes provas: os graus de perfeição (4ª prova) e a finalidade do
ser (5ª prova).
· Ser
geral e ser pleno
Uma novidade trazida por Tomás de Aquino
é a distinção entre o ser (ou a existência) e a essência, o que implicou a
divisão da metafísica em duas partes: a do ser em geral e a do ser pleno, que é
Deus.
De acordo com a ele, o único ser
realmente pleno, no qual o ser e a essência se identificam, seria Deus. Para o
filósofo, Deus é ato puro, pois ele é completo. Nas outras criaturas, porém, o
ser é diferente da essência, pios elas seriam seres não necessários, dependendo
da intervenção divina para ser (ou existir). Por isso, estas constituem os
seres em geral, não necessários, e Deus é o ser pleno, necessário e do qual
dependem os demais seres.
· A
escolástica pós-tomista
Grandes acontecimentos históricos
marcaram a Europa nos séculos XIII e XIV, como a Guerra dos Cem Anos, entre
França e Inglaterra; a epidemia da peste bubônica, que matou cerca de três
quartos da população europeia; o cisma definitivo entre as Igrejas do Ocidente
e do Oriente, que, entre outros fatores, diminuiu a influência da Igreja
Católica Romana sobre o poder temporal (o Estado) e sobre a população; a
criação de novas universidades, que iniciaram o desenvolvimento de questões
relativas às ciências naturais e o processo de autonomia da filosofia em
relação à teologia.
Esses são alguns dos fatos que marcaram o
fim da Idade Média na periodização tradicional da história, coincidindo com o
questionamento do pensamento tomista.
Entre os filósofos mais significativos desse
período estão os ingleses Roberto Grosseteste (1168-1243) e Roger Bacon
(1214-1292), que iniciaram uma investigação experimental, no campo das ciências
naturais que abriu caminho para a ciência moderna.
COTRIM,
Gilberto, Mirna Fernandes , Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
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