Col. Est. Dep. Manoel Mendonça
Prof.: Cássio Vladimir de Araújo
Série: 2°
Ano
Disciplina: Sociologia - 2017
RENÉ DESCARTES E O
RACIONALISMO
· O conhecimento parte da
razão
Durante o século XVII, a confiança no poder da razão no
processo de conhecimento chega a seu auge no contexto da filosofia, à qual a
ciência ainda se mantinha vinculada. Por isso a produção filosófica dessa época
costuma ser denominada grande racionalismo.
Conforme vimos antes, no campo das teorias do conhecimento,
racionalismo designa a doutrina que privilegia o papel da razão no processo de
conhecer a verdade.
· Racionalismo
A palavra racionalismo deriva do latim “ratio”, que
significa “razão”, e é empregada em diversos sentidos. No contexto das teorias
do conhecimento, racionalismo designa a doutrina que atribui exclusiva
confiança à razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade. René Descartes advertia, não devemos nos
deixar persuadir senão pela evidência de nossa razão.
Essa preferência se deve principalmente à compreensão,
pelos racionalistas, de que a experiência sensorial é uma fonte permanente de
erros e confusões sobre a complexa realidade do mundo. Assim, para eles,
somente a razão humana, trabalhando de acordo com os princípios lógicos, pode
atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de ser universalmente aceito.
Para o racionalismo, os princípios lógicos fundamentais
seriam inatos, isto é, já estariam na mente do ser humano desde o nascimento.
Daí a razão ser concebida como a fonte básica do conhecimento.
·
René Descartes
René Descartes [1596- 1650) nasceu em La Haye, França, em
uma família de prósperos burgueses.
Decepcionado com a formação tomista-aristotélica que recebera no colégio
jesuíta de La Fleche, decidiu buscar a ciência por conta própria, esforçando-se
por decifrar o "grande livro do mundo". Em suas inúmeras viagens pela
Europa, estabeleceu contatos com vários sábios de seu tempo, entre eles Blaise
Pascal,. Vejamos algumas concepções básicas de seu pensamento.
·
Dúvida metódica
Vimos anteriormente que Descartes afirmava que, para
conhecer a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos
em dúvida. É necessário questionar tudo e analisar criteriosamente se existe
algo na realidade de que possamos ter plena certeza.
Fazendo uma aplicação metódica da dúvida, o filósofo
percebeu que a única verdade totalmente livre de dúvida era que ele pensava.
Deduziu então que, se pensava, existia (Penso, logo existo) Para Descartes,
essa seria uma verdade absolutamente firme, certa e segura, que por isso mesmo
deveria ser adotada como princípio básico de toda a sua filosofia. Era sua
base, seu novo centro, seu ponto fixo.
É preciso ressaltar que o termo pensamento é utilizado pelo
filósofo em um sentido bastante amplo, abrangendo tudo o que afirmamos, negamos,
sentimos, imaginamos, cremos e sonhamos. Assim, o ser humano seria, para ele,
uma substância essencialmente pensante.
· Dualismo
Também estudamos anteriormente que Des cartes, aplicando a
dúvida metódica, chegou à conclusão de que no mundo haveria apenas duas
substâncias, essencialmente distintas e separadas:
- a substância pensante (res cogitans).
correspondente à esfera do eu ou da consciência :
- a substância extensa [res extensa]. correspondente
ao mundo corpóreo, material.
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O ser humano seria composto dessas duas
substâncias, enquanto a natureza se constituiria apenas de substância extensa.
Essa era uma concepção que se chocava com a noção tomista-aristotélica
predominante, segundo a qual haveria tantas substâncias quantos são os seres
que existem.
A metafísica cartesiana também incluía uma substância
infinita (res infinita). relativa a Deus, o ser que teria criado todas as
coisas). Mas essa substância não seria parte deste mundo, pois o Deus
cartesiano é transcendente, está separado de sua criação.
· Idealismo
Descartes concluiu, porém , que o pensamento [ou
consciência] é algo mais certo que
qualquer corpo , pois ele considerava a matéria, algo apenas conhecível,
se é que o é, por dedução do que se sabe da mente. [RUSSELL, História da
filosofia ocidental, v. 2, p. 88].
Essa é uma concepção idealista, tano em termos ontológicos
como epistemológicos, pois prioriza o ser pensante em contraposição à matéria,
bem como a atividade do sujeito pensante em
relação ao objeto pensado.
· Racionalismo convicto
Descartes era um racionalista convicto. Recomendava que
desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos
frequentes erros do conhecimento humano. Dizia que o verdadeiro conhecimento
das coisas externas devia ser conseguido através do trabalho lógico da mente.
Nesse sentido, considerava que, no passado, dentre todos os indivíduos que
buscaram a verdade nas ciências, "só os matemáticos puderam encontrar
algumas demonstrações, isto é, algumas razões certas e evidentes" [DESCARTES,
Discurso do método, p. 39].
Descartes atribuía, por tanto, grande valor à matemática
como instrumento de com preensão da realidade. Ele próprio foi um grande
matemático, considerado um dos criadores da geometria analítica - sistema que
tornou possível a determinação de um ponto em um plano mediante duas linhas
perpendiculares fixadas graficamente (as coordenadas cartesianas).
· Método cartesiano
Da sua obra Discurso do método, podemos destacar quatro
regras básicas, consideradas por Descartes capazes de conduzir o espírito na
busca da verdade:
- regra da evidência - só aceitar algo como
verdadeiro desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e distinção.
As ideias claras e distintas seriam encontradas na própria atividade mental,
independentemente das percepções sensoriais externas. Devido a elas, Descartes
propôs a existência das ideias inatas [com as quais nascemos], que são
plenamente racionais. Exemplos: as ideias matemáticas, as noções gerais de
extensão e movimento, a ideia de infinito etc.
- regra da análise - dividir cada uma das
dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para
resolvê-las melhor.
- regra da síntese - reordenar o raciocínio indo dos
problemas mais simples para os mais complexos.
- regra da enumeração - realizar verificações
completas e gerais para ter absoluta segurança de que nenhum aspecto do
problema foi omitido.
· Herança cartesiana
O pensamento de Descartes influi profundamente no
pensamento posterior. Sua concepção dualista do ser humano ainda é sentida em
diversos campos do conhecimento. E seu método contribuiu grandemente para uma
visão reducionista da realidade.
Sua tentativa, porém, de reconstruir o edifício do
conhecimento talvez não tenha obtido resultados tão fecundos quanto o efeito
demolidor que causou. Por isso podemos dizer - junto com alguns de seus
comentadores – que Descartes celebrizou-se não propriamente pelas questões que
resolveu, mas, sobretudo, pelos problemas que formulou - os quais foram
herdados pelos filósofos posteriores. As filosofias de Espinosa, Leibniz e
Malebranche são exemplos disso, pois foram construídas a partir da meditação
dos problemas postos por Descartes e seguindo estruturas provenientes do
pensamento dele.
Fonte Bibliográfica:
COTRIM,
Gilberto, Mirna Fernandes, Fundamentos de filosofia, volume único, 2ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
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